Título: Eleição deve dar a Netanyahu coalizão reduzida e instável, indica boca de urna
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Fonte: O Estado de São Paulo, 23/01/2013, Internacional, p. A10

O governo de Binyamin Netanyahu foi pego de surpresa on­tem pelo alto comparecimento israelense às urnas, em uma disputa bem mais apertada do que o previsto e com a centro-esquerda ganhando espaço. Pesquisas de boca de uma indi­cavam que a aliança Likud-Yisrael Beiteinu, liderada pelo primeiro-ministro, obteria 31 as­sentos - 11 a menos do que tem atualmente. Em seguida, vêm o centrista Yesh Atid, com 19, e os trabalhistas, com 17.

Juntos, os partidos do bloco da direita teriam 61 cadeiras - apenas 1 a mais do que o necessá­rio para formar uma coalizão governista na Knesset (Assembleia). Se as sondagens estive­rem certas, Netanyahu poderá continuar no cargo de premiê, mas dependerá de uma base governista estreita e instável.

Horas antes do fechamento das umas, o primeiro-ministro fez um apelo a seus partidários. "O governo do Likud está em pe­rigo. Peço a você que pare agora o que estiver fazendo e vá votar. Isso é muito importante para ga­rantir o futuro de Israel", exor­tou Netanyahu no Facebook. O aumento do comparecimento às urnas não teria atingido redutos do partido do premiê.

À noite, depois da divulgação dos resultados da boca de urna, a página do premiê na rede social prometia uma coalizão "o mais ampla possível" - uma indicação de que ele pretende estender a mão a partidos fora do campo da direita. "Temos a oportunidade de fazer várias mudanças em fa­vor de todos os cidadãos", disse.

Em regiões que costumam vo­tar mais na centro-esquerda, eleitores foram em massa às ur­nas. O número de árabes-israelenses também superou as expectativas - ontem, o patriarca da Igreja Ortodoxa em Jerusa­lém exortou fiéis a participarem das eleições. O índice de compa­recimento teria alcançado 64% em comparação a 59% em 2009.

A grande surpresa da votação deve ser o partido centrista Yesh Atid, do popular jornalista Yair Lapid, um novato na política. A legenda, que põe ênfase no secularismo do Estado e em questões econômicas, provavelmente se tornará a segunda maior força política de Israel. Os trabalhis­tas - que por décadas governa­ram o país, mas perderam força nos últimos anos - mais do que duplicaram sua presença na Knesset.

Tido como a surpresa da cam­panha eleitoral, o partido de ex­trema direita Bayit Yehudi, do ca­rismático empresário de tecnolo­gia Naftali Bennett, conseguiu 12 cadeiras, menos do que o espe­rado. Também no campo da di- reira, o partido religioso sefardita Shas ficou com 12 assentos. O centrista Hatnuah, da ex-chance­ler Tzipi Livni, obteve 7 cadeiras, assim como o esquerdista Meretz.

Governo. Pelo sistema parla­mentarista israelense, o líder do partido com a maior bancada na Knesset (Assembleia) recebe do presidente - atualmente Shimon Peres - o direito de tentar formar uma coalizão. Se ele fra­cassar em atrair para a base governista ao menos 50% dos do Parlamento, o representante da segunda maior legenda busca forjar uma aliança - e assim su­cessivamente.

Caso nenhum partido tenha sucesso, novas eleições são con­vocadas. Em 2009, o Kadima foi eleito com a maior bancada, pela diferença de uma cadeira em re­lação ao Likud. Mas, como não conseguiu formar um governo, assumiu Netanyahu.

Surpreendidos pelo resultado da boca de urna, líderes trabalhis­tas afirmaram ao Haaretz que apoiariam um governo de centro sob a liderança de Lapid. A ex-chanceler Livni também disse que está disposta a unir força com a legenda centrista e com os trabalhistas. / Reuters, AP e AFP