Título: Chavismo se diz vítima de perseguição após erro de jornal espanhol em foto
Autor: Raatz, Luiz; Cavalheiro, Rodrigo
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/01/2013, Internacional, p. A10

O governo da Venezuela pro­testou ontem contra uma ima­gem erroneamente atribuída ao presidente Hugo Chávez, que chegou a ser publicada pe­lo diário espanhol El País em suas edições impressa e onli­ne. A Embaixada da Venezuela em Madri divulgou um comu­nicado no qual denunciou uma "campanha" do jornal contra Chávez. Em Cuba, o vi­ce-presidente venezuelano, Nicolás Maduro, manteve si­lêncio sobre o equívoco e tam­bém sobre o estado de saúde de Chávez.

O El País pediu: desculpas a seus leitores e mandou parar a edi­ção às pressas quando descobriu que a foto era falsa. Mas algumas bancas espanholas receberam o exemplar com a capa equivocada. O site do periódico também re­moveu a imagem. "O El País pede desculpas a seus leitores pelo pre­juízo. O jornal abriu uma investi­gação para apurar o ocorrido e os possíveis erros na verificação da foto" disse em comunicado a em­presa que edita o jornal.

O governo chavista vinculou a publicação da foto a uma suposta posição política do jornal contra Chávez. O ministro das Comuni­cações Ernesto Villegas disse por meio de sua conta no Twitter que a foto, que mostra um homem com um respirador artificial era tão grotesca quanto falsa.

"O El País publicaria tal ima­gem de um líder europeu? Sensacionalismo é válido se a vítima é um revolucionário sul-america­no", disse Villegas. Meios cuba­nos ligados ao chavismo aprovei­taram o episódio para denunciar uma "perseguição" ao presidente venezuelano.

A imagem foi retirada de um vídeo do YouTube publicado em 2008 no México sobre um proce­dimento cirúrgico em um pacien­te com acromegalia, uma doença hormonal. O ministro acusou o ex-embaixador do Panamá na Or­ganização dos Estados America­nos (OEA) Guillermo Cochezde difundir a imagem.

A foto foi vendida pela agência Gtres Online, parceira "de vários anos" do El País, segundo o próprio jornal. No texto que acompa­nhava a foto na capa do jornal, o periódico informava que não po­dia confirmar de maneira inde­pendente a veracidade da ima­gem nem a data na qual havia sido tirada.

Segundo o diretor de redação do diário espanhol El Mundo - concorrente do El País -, Pedro Ramírez, a mesma foto foi ofereci­da por €30 mil.

De acordo com a missão de Ca­racas em Madri, o El País desenvolve uma campanha contra Chá­vez e o povo venezuelano. "A pu­blicação revela a falta de ética na sua cobertura sobre a Venezuela, além do desprezo pelo povo que reelegeu o presidente Chávez pe­la terceira vez", disse a embaixa­da, que mencionou um editorial de abril de 2002, quando o jornal teria justificado o golpe de Esta­do contra o presidente. O El País não respondeu à crítica do gover­no chavista à publicação da foto.

O Instituto Prensa Y Sociedad (Ipys) - entidade venezuelana que luta pelo acesso à informação e liberdade de imprensa - criti­cou a publicação da foto e a posi­ção do governo sobre o quadro de Chávez. Para a diretora do Institu­to, Marianela Balbi, falta transpa­rência ao governo no tratamento dado à saúde do presidente e isso favorece um clima de publicação de rumores e informações incor­retas. "Rechaçamos o uso da in­formação do uso da saúde do pre­sidente sem ética profissional, te­mos de saber que esses temas de­vem ser tratados com muita ética. Mas isso ocorre por que não há uma política comunicacional transparente", disse. "Por outra parte, esses feitos alimentam es­sa linha editorial do governo de qualificar qualquer coisa de guer­ra midiática."

Desde que Chávez foi interna­do em Cuba em 11 de dezembro para uma quarta cirurgia contra um câncer pélvico, houve 29 co­municados sobre sua saúde. O ti­po do tumor nunca foi tornado público.