Título: Renan dá cargos, consolida apoios e deve vencer no Senado com ampla vantagem
Autor: Lopes, Eugênia ; Bergamasco, Débora
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/01/2013, Nacional, p. A4

Sucessão no Congresso. Apesar de denúncias de irregularidades e da biografia manchada pela ameaça de uma cassação em 2007, peemedebista acatou pedidos de partidos para controlar Mesa Diretora e conseguirá retomar comando do Senado sem forte oposição

Depois de sacramentar com os partidos o loteamento de cargos na Mesa Diretora do Se­nado, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) entra na dis­puta amanhã pela presidência da Casa como o franco favori­to. Mesmo sob denúncias, a es­timativa é que Renan obtenha entre 55 e 60 votos favoráveis à sua candidatura para suce­der José Sarney (PMDB-AP), atual presidente do Senado. Para se eleger, é necessário pe­lo menos 41 votos (maioria simples). As dissidências deve­rão ficar entre 20 e 25 votos.

"Ele (Renan) consegue se ele­ger tranquilamente, com uma grande folga de votos", afirmou ontem o presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO).

Os senadores Randolfe Rodri­gues (PSOL-AP) e Pedro Taques (PDT-MT) reúnem-se hoje para decidir se manterão as duas can­didaturas alternativas ou se lan­çarão um candidato único. A ava­liação é que Taques tem mais chances de conquistar votos do que Randolfe.

A estimativa é que Taques ob­tenha entre 20 e 25 votos, caso saia candidato. Já Randolfe con­seguiria apenas arregimentar cerca de dez votos.

Os tucanos ficaram irritados com Randolfe, que acusou o PSDB de ter feito acordo para sal­var o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), na Comis­são Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira em troca de apoio à candidatura de Renan.

Liderança. Para consolidar sua vitória na eleição de amanhã, Re­nan trabalhou nos últimos dias para acabar com o racha em tor­no da disputa pela liderança do PMDB. O senador Romero Jucá (RR) ameaçou disputar a lideran­ça do partido contra Eunício Oli­veira (CE).

Essa divisão interna no PMDB foi encarada como um risco à sua candidatura. Afinal, o derrotado poderia se "bandear" para a can­didatura alternativa ou até se abster de votar.

Eunício será ungido hoje co­mo novo líder do partido no Se­nado. A fim de pacificar o parti­do, a estratégia de Renan foi vol­tar atrás e concordar em dar a 2.ª Vice-Presidência do Senado pa­ra Jucá. Esse cargo já havia sido oferecido ao PTB do senador Gim Argeílo (DF), que abriu mão e irá ocupar a 2.a Secretaria do Senado com João Vicente Claudino (PI).

O PTB também ganhou a presi­dência da Comissão de Infraestrutura, que ficará com o ex-pre­sidente e senador Fernando Collor de Mello (AL).

No loteamento de cargos na Mesa empreendido por Renan coube ao PR ficar com a 3.ª Secre­taria. Para o cargo, será indicado João Ribeiro (TO) ou Magno Malta (ES). O ex-governador Blairo Maggi (PR-MT), que já ga­nhou o troféu "motosserra" por promover desmatamento nas suas plantações de soja, será o novo presidente da Comissão de Meio Ambiente.

Prefeitura da Casa. Considera­da uma espécie de prefeitura do Senado, responsável por um or­çamento de R$ 3,5 bilhões para este ano, a 1.ª Secretaria deverá ficar a cargo do PSDB, provavel­mente nas mãos do senador Flexa Ribeiro (PA).

O cargo poderá, no entanto, ser disputado por um candidato "alternativo", caso os tucanos decidam fechar questão contra a eleição de Renan.

O argumento é que se os tuca­nos não respeitarem a proporcio­nalidade para a presidência do Senado também não é preciso respeitar a mesma regra para preencher a 1.ªa Secretaria. Daí a dificuldade do partido de fechar questão contra a candidatura de Renan, mesmo depois de o sena­dor e presidenciável Aécio Ne­ves (MG) ter ido a público pedir a renúncia do peemedebista.

Aécio. O tucano defendeu a ma­nutenção do critério da propor­cionalidade nos cargos da Mesa Diretora - ou seja, a presidência cabe ao PMDB que, provavelmente, indicará hoje Renan para comandar o Senado pelos próxi­mos dois anos.

Com uma bancada de 11 sena­dores, atrás do PMDB e do PT, os tucanos têm regimentalmente o direito de ocupar a 1.a Secretaria do Senado. Já o PT, segundo maior partido do Senado, ficará com a 1.a Vice-Presidência a car­go do petista Jorge Viana (AC). O PT garantiu apoio integral à eleição de Renan Calheiros para evitar confrontos com o PMDB.