Título: Volta de Renan mostra vitória do conchavo político
Autor: Brito, Ricardo ; Álvares, Débora
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2013, Nacional, p. A10

A eleição do novo presidente do Sena­do confirma as perspectivas mais sombrias dos defensores da demo­cracia e da transparência pública. A vitória de Renan Galheiros (PMDB-AL) mos­tra que as votações são decididas nos bastido­res por conchavos políticos. O fato de Renan já ter renunciado em 2007 não parece ter tido nenhum impacto na decisão dos senadores em reelegê-lo. Na ocasião, as acusações foram:

A revista Veja acusou o senador de ter despesas pessoais pagas por um lobista. O dinheiro bancaria a pensão e o aluguel da jor­nalista com quem o senador tem uma filha;

Renan teria um esquema de arrecada­ção em ministérios comandados pelo PMDB;

Teria beneficiado bancos privados com a concessão de crédito consignado. Em troca, a instituição financeira teria pago propina a ele;

Renan foi acusado de manter assessores para espionar a vida de senadores da oposição;

Não menos importante, houve uma de­núncia de que Renan teria intercedido junto ao INSS a favor de uma conhecida empresa de cervejas e refrigerantes vendida em 2011 para um grupo japonês.

Na época, nenhuma das denúncias foi devi­damente averiguada e ele foi absolvido pelo plenário da Casa. Na realidade, nenhuma das acusações acima foi relevante na decisão de Renan em renunciar, exceto a possibilidade de ter seus direitos políticos suspensos.

Mais recentemente, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, apresentou três novas denúncias contra Renan no STF: peculato, uso de documento falso e falsidade ideológica.

Por qualquer uma das acusações acima, um senador nos EUA já teria renunciado ao mandato. O ex-governador da Califórnia Arnold Schwarzenegger teve que abandonar o seu mandato apenas por ter filho(s) fora do casamento. Isso demonstra que nossa classe política brasileira se caracteriza pelo pragma­tismo e pela falta de padrões de ética, impes­soalidade e moralidade, princípios básicos do Estado e do setor público.

A eleição de um deputado do PMDB para a presidência da Câmara, como deve se confir­mar na segunda-feira, com a vitória de Henri­que Eduardo Alves (RN), pode gerar um qua­dro de concentração de poderes e instabilida­de, podendo afetar negativamente a produção legislativa. Em ambos os casos, não haverá interesse nem da Câmara nem do Senado em levar a cabo investigações contra seus membros.

É CIENTISTA POLÍTICO, PROFESSOR DA UNB