Título: Produção de veículos sofre retração de 13,5%
Autor: Amorim, Daniela ; Nunes, Fernanda
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/02/2013, Economia, p. B3

Setor automotivo deu a maior contribuição negativa para o resultado da indústria no ano passado, apesar do incentivo do IPI reduzido

Nem os incentivos do governo foram capazes de salvar a indústria automobilística em 2012. O setor registrou queda de 13,5% na produção, a maior contribuição negativa para o recuo de 2,7% na indústria nacional no período, segundo informou o IBGE.

Apesar dos empréstimos a juros negativos e compras governamentais, as perdas chegaram a 36,2% para caminhões e ônibus. O resultado é explicado por uma determinação de mudança nos motores de caminhões no País por modelos menos poluentes. A medida levou a uma antecipação na compra e na produção de caminhões no fim de 2011, criando uma base de comparação mais forte e menor demanda no ano seguinte. "O recuo (de 36,2%) está um pouco misturado com ônibus, mas esse é o resultado de caminhões", afirmou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.

O desempenho ruim do setor de caminhões se refletiu na produção e bens de capital, que caiu 11,8% no ano. "Na queda de bens de capital, a troca de motor de caminhões foi importante. Houve encarecimento do produto e antecipação de consumo em 2011. Mas não é só isso", ponderou Macedo.

A redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) tampouco conseguiu fazer com que a linha de produção de automóveis escapasse do negativo no fechamento do ano (-1%). Embora tenha havido melhora nos últimos meses, a perspectiva de retirada gradual do benefício pelo governo e a permanência do alto patamar de endividamento das famílias pode levar a uma nova desaceleração na fabricação de veículos.

"Com a expiração gradual do incentivo tributário, a produção de automóveis em especial deve passar por uma expressiva desaceleração nos próximos meses", avaliou Flávio Combat, economista-chefe da corretora Concórdia. "O comprometimento de parte da renda das famílias com dívidas contraídas para a compra de bens de consumo duráveis pode implicar um arrefecimento na produção industrial no começo de 2013", completou.

No último trimestre de 2012, a fabricação de automóveis teve um salto de 11,4%, em relação ao mesmo período do ano anterior. O bom resultado já tinha sido precedido por um aumento no terceiro trimestre (de 8,5%), mas não foi suficiente para suplantar as perdas do primeiro semestre.

"A redução do IPI teve uma contribuição boa, mas que dura pouco. Até porque nesse setor de automóveis tem a questão do crédito, e a gente sabe que há mais cautela"," lembrou Silvia Matos, coordenadora técnica do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).

Já o economista Antônio Corrêa de Lacerda, professor da PUC-SP, acredita que tanto a produção de automóveis como de eletrodomésticos de linha branca devem permanecer em crescimento em 2013, mesmo com a retirada gradual do programa de desoneração. "Com o fim da redução do IPI, é possível que haja uma queda de produção de automóveis no curtíssimo prazo para, em seguida, ter uma recuperação", previu.

A retomada na produção da indústria em 2013, no entanto, ainda é cercada de dúvidas. "O resultado de dezembro (da indústria) não foi positivo. Isso significa que a magnitude de recuperação esperada ao longo deste ano ainda é permeada de incertezas", ressaltou o economista Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria Integrada.

O Ibre/FGV espera crescimento de 2,8% no PIB do País em 2013, mas desde que haja reação na industria. Caso contrário, pode haver revisão para baixo na projeção para a economia.