Título: Presidente mira 2014 e adota novo estilo
Autor: Peron, Isadora
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/02/2013, Nacional, p. A6

Na metade final do mandato, Dilma segue conselho de Lula e altera modo de governar

Pré-candidata à reeleição em 2014, a presidente Dilma Rousseff acatou os conselhos do an­tecessor e padrinho político Luiz Inácio Lula da Silva e alte­rou a agenda para intensificar o corpo a corpo com empresá­rios, representantes de movi­mentos sociais, sindicalistas e partidos da base govemista.

Desde janeiro, a presidente mudou a forma de se relacionar com setores da sociedade. Dei­xou de lado o perfil mais técnico e passou a adotar estilo parecido com o de Lula, que comandava as relações políticas do governo de seu gabinete no Planalto.

A mudança ocorreu após con­versas com Lula no final de 2012, em Paris, e no último dia 25, em São Paulo. Nas ocasiões, os dois traçaram estratégias para este ano e discutiram 2014. O ex-presidente manifesta preocupação com o baixo crescimento do País e o isolamento do governo, que teriam implicações negativas no seu plano de reeleger de Dilma.

Logo após se encontrar com Lula em São Paulo, Dilma mu­dou o tom. Em cima de um palan­que, enalteceu resultados dos programas sociais iniciados pelo antecessor e disse que o Brasil crescerá. Dias depois, em Sergi­pe, criticou a política energética do tucano FHC. O ataque foi uma resposta à direção do PSDB, que classificou como "antecipa­ção de campanha" o anúncio da redução no valor da energia elé­trica feito em rede nacional.

Na semana passada, começou a colocar em prática a aproxima­ção com os movimentos sociais. Na segunda-feira, visitou - pela primeira vez desde que assumiu a Presidência - um assentamen­to do MST. No interior do Para­ná, ouviu críticas à política de re­forma agrária, mas também aplausos e um coro de "Dilma no­vamente", em referência a 2014.

Na terça-feira, Dilma se encon­trou com dirigentes da CUT e, segundo a entidade, se compro­meteu a conversar com as cen­trais sindicais em marcha marca­da para 6 de março, em Brasília.

Caso a reunião se confirme, será a primeira vez que ela receberá pessoalmente a pauta de reivindicações dos trabalhadores, tarefa que delegava ao ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral).

"As iniciativas de receber o MST e a CUT vão na direção de reabrir um diálogo, um diálogo que para Dilma é importante, porque esses são setores tradicionalmente ligados ao PT e que apoiaram a eleição dela em 2010 de maneira muito decisiva", ex­plica o cientista político Ricardo Ismael, professor da PUC-Rio.

Além dos sindicalistas, Dilma recebeu empresários no Planal­to. Foram mais de dez encontros com executivos desde janeiro.

Base. A presidente também in­tensificou os contatos políticos. Na semana passada, cortejou o PR para cimentar a volta da sigla à base governista. A relação com o partido está estremecida des­de 2011, quando o então ministro dos Transportes Alfredo Nasci­mento pediu demissão após de­núncias no setor. O ex-ministro Carlos Lupi, presidente do PDT, que também caiu na "faxina" fei­ta por Dilma, foi outro chamado para conversa no Planalto.

Na nova agenda, a presidente intensificou as viagens pelo Nor­deste, reduto eleitoral do PT que está sob influência do governa­dor de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), potencial adver­sário em 2014. Dilma quer mantê- lo em seu radar. Em janeiro, al­moçou com o governador em suas férias e o recebeu em au­diência em Brasília.