Título: Tombini tira desaceleração da inflação do discurso oficial
Autor: Chiara, Márcia De ; Villaverde, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/03/2013, Economia, p. B1

Na Polônia, presidente do BC fala de resistência de preços, o que reforça tese de analistas de que juros devem subir em breve

Enviado especial / Varsóvia

O Banco Central está menos otimista com as perspectivas para a inflação. A sinalização foi feita ontem pelo presidente da casa, Alexandre Tombini. Ao contrário das apresentações feitas nas últimas semanas, o responsável pelo juro no Brasil suprimiu do discurso a previsão de que os índices devem desacelerar no 2º semestre. Pelo contrário, alertou que alimentos e bebidas têm o maior aumento de preços em uma década e a inflação de serviços está desacelerando de uma maneira "muito, muito lenta". O discurso dá força aos analistas que preveem alta da taxa Selic em breve.

Em evento organizado pelo BC da Polônia, Tombini falou a uma plateia de pouco mais de 50 pessoas. Após apresentar o Brasil aos economistas e investidores poloneses, o presidente do BC repetiu a percepção de que a inflação brasileira mostra "resiliência nos últimos meses". Dessa vez, porém, a análise não foi acompanhada pela expectativa otimista de que os índices de preço ao consumidor devem desacelerar na segunda metade do ano.

No fim de fevereiro nos Estados Unidos, Tombini também reconheceu que a inflação tem apresentado alguma resistência em cair. Em Nova York e em Illinois, porém, o presidente do BC emendava a análise com um prognóstico animador: "Haverá desaceleração no 2º semestre". Em Varsóvia, o trecho foi retirado da apresentação.

Ontem, Tombini apontou dois focos que têm pressionado os preços para cima. Alimentos e bebidas compõem a primeira fonte de preocupação. No acumulado em 12 meses até fevereiro, os preços desses itens subiram, em média, 12,5%. Essa é a maior inflação de alimentos e bebidas pelo menos desde 2004, mostrou o presidente do BC. Não por acaso, o governo federal tenta atacar o problema com a recente isenção de impostos de itens da cesta básica.

Serviços. Outro foco de atenção do presidente do BC é o setor de serviços, cuja inflação teima em não cair já há alguns anos, disse. À plateia polonesa, Tombini explicou que a recente ascensão social de milhões de famílias para a classe média é uma das explicações para a resistência de preços como do cabeleireiro ou das mensalidades escolares. Em 12 meses, os serviços tiveram aumento 8,7%, ritmo quase idêntico aos 9% de 2011.

Com a resistência dos preços de itens como alimentos, a inflação brasileira dos produtos comercializáveis - grosso modo, aqueles que podem ser importados - alcança 6,4% nos últimos 12 meses, o patamar mais alto desde 2010, quando a alta foi de 6,9%. O discurso feito na Polônia mexeu com o mercado brasileiro e os juros futuros passaram a subir. Para analistas brasileiros, o discurso reforça a corrente dos investidores que apostam em alta do juro muito em breve.

O diretor de pesquisas econômicas para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, é um dos que prevê aumento já na próxima reunião do Copom, em abril. Para ele, o BC deve elevar a Selic em 1,25 ponto porcentual e o primeiro aumento deve ser já em abril - com alta de 0,25 ponto - e duas doses de 0,5 ponto em maio e junho.