Título: Fim de emenda pode retomar caos dos precatórios
Autor: Gallucci, Maríãngela
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/03/2013, Nacional, p. A8
Decisão do STF põe fim a reserva de orçamento para quitação de dívidas; prazo de regra antiga não é cumprida pelo poder público
A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de declarar inconstitucional, na quinta-feira, a emenda dos precatórios, poderá piorar a situação dos credores. Ministros da Corte ainda não definiram quais serão as conseqüências da decisão nos pagamentos já realizados ou em curso com base na emenda derrubada. Também não sabem como ficará a situação daqui para frente.
Os detalhes deverão ser debatidos em outra sessão do Supremo, ainda sem data marcada. Pela regra ontem considerada inconstitucional pelo STF, o poder público tinha de depositar mensalmente um porcentual para saldar as dívidas com precatórios e tinha a possibilidade de parcelar o pagamento em até 15 anos. Com a derrubada dos dispositivos, poderá voltar a valer a regra anterior, segundo a qual o poder público deve pagar o débito no ano seguinte.
O problema é que essa determinação não era cumprida por Estados e municípios. A única forma de pressão que os credores tinham era pedir intervenção federal - uma iniciativa que nunca trouxe resultados práticos. "Qual é o sentido de declarar sua inconstitucionalidade e retornar ao texto original? Para dizer que o caos é melhor que a ordem?", perguntou durante o julgamento o ministro Gilmar Mendes, que votou contra a derrubada da emenda.
"Não podemos fugir de uma verdade: que o modelo anterior era mais perverso ainda. Os Estados inadimplentes estão inadimplentes há 15, 20 anos ou mais", concordou o ministro Teori Zavascki. As dívidas acumuladas por Estados e municípios (R$ 94 bilhões ao todo, de acordo com dados do ano passado) superam a capacidade de pagamento.
Durante o julgamento, que durou seis sessões, ministros ressaltaram que foi preservado um dispositivo segundo o qual "a seu critério exclusivo e na forma da lei, a União poderá assumir débitos, oriundos de precatórios, de Estados, Distrito Federal e municípios, refinanciando-os diretamente". Essa solução tem o apoio de parte dos advogados e ministros. Na nova sessão em que o STF discutir os efeitos da derrubada da emenda, os integrantes da Corte avaliarão a possibilidade de fazer uma modulação dos efeitos do julgamento.
Preocupação. No final da sessão de quinta-feira, procuradores estaduais e municipais mostraram-se preocupados com as consequências da mudança no sistema de pagamentos, principalmente em relação aos já realizados pelo poder público.
O STF decidiu derrubar a emenda dos precatórios por considerar que ela desrespeitava princípios da Constituição Federal, como os que garantem a iso- nomia, o direito adquirido, o respeito à coisa julgada e a separação de Poderes. "Não se pode criar uma carta de alforria para ir superando essas cláusulas pétreas", afirmou na òcasião o ministro Luiz Fux.