Título: S&P rebaixa rating soberano de longo prazo do Chipre
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Fonte: O Estado de São Paulo, 22/03/2013, Economia, p. B8

Agência diz que decisão reflete problemas do setor bancário do país; hoje governo deve apresentar plano B para conseguir ajuda

A agência de classificação de risco Standard & Poor"s rebaixou ontem a classificação de risco soberano de longo prazo do Chipre de CCC+, para CCC, com perspectiva negativa. A classificação de risco de curto prazo foi afirmada em C. Segundo a S&P, o rebaixamento reflete os sérios problemas do setor bancário cipriota, que desde o início de 2012 vem sofrendo perdas.

Ontem, no fim do dia, centenas de bancários furiosos reuniram-se no centro da capital cipriota para protestar em meio aos rumores de que o governo estaria planejando dividir o segundo maior banco do país, o Laiki Bank.

A S&P justificou sua decisão de rebaixar a dívida do país ao dizer que "nossa expectativa é de que os dois maiores bancos do Chipre, juntos, precisarão de € 10 bilhões em injeção de capital", diz o relatório da agência.

A agência criticou o fato de o Parlamento cipriota ter rejeitado a proposta de imposto sobre depósitos bancários para obter os € 5,8 bilhões necessários sob os termos do acordo de resgate com a troica - Banco Central Europeu, Fundo Monetário Internacional e Comissão Europeia.

Na capital, os manifestantes, que carregavam cartazes em que pediam que o governo não fizesse uma intervenção no Laiki Bank, se concentraram nas ruas próximas ao Parlamento, onde os parlamentares estavam reunidos para debater a crise e negociar um "plano B" para país.

Com o crescimento dos rumores sobre o banco, o Laiki Bank anunciou um limite para saques de € 26oà medida que os correntistas corriam para caixas eletrônicos em toda a ilha.

Negociação. Governo e deputados do Chipre discutiram na noite de ontem os detalhes do "plano B" que deve ser anunciado hoje para contornar a rejeição pelo Parlamento do projeto que criava o imposto obrigatório sobre depósitos bancários. Pressionado pela UE, o presidente do Chipre, Nicos Anastasiades, pediu ao governo que apresentasse uma alternativa, já que o país se tornará o primeiro da zona do euro a falir sem os € 10 bilhões do plano de socorro de Bruxelas.

O projeto em estudo na noite de ontem abandonaria o imposto sobre depósitos bancários e criaria um "fundo de solidariedade", financiado por empresas e por contribuintes, segundo o porta-voz do governo, Christos Stylianides.

A forma de arrecadação desse fundo, entretanto, não foi definida. O governo garantia apenas que depósitos de até € 100 mil não seriam incluídos. "Chegamos a um consenso, e uma decisão unânime foi tomada para criar um fundo de investimentos de solidariedade", disse Stylianides, em nota.

Além disso, as autoridades estudariam o prolongamento do feriado bancário, que já dura seis dias, e o bloqueio de transferências financeiras ao exterior, para evitar o colapso do sistema quando os bancos reabrirem. As medidas estavam sendo analisadas pelo presidente do Banco Central do Chipre, Panicos Demetriades, que confirmou ter recomendado "a apresentação urgente de uma medida legislativa sobre a reorganização e o relançamento do sistema bancário cipriota". /ANDREI NETTO COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS