Título: Não queremos ver a agência desvirtuando funções, diz Campos
Autor: Domingos, João ; Peron, Isadora
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2013, Nacional, p. A6

Para governador, "seria decepção se fosse comprovada esse tipo de transgressão da Abin" no governo apoiado por ele.

Durante agenda política em Porto Alegre ontem, o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, questionou a ação da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) nos portos brasileiros a fim de monitorar movimentos grevistas contra a Medida Provisória dos Portos.

"Não queremos ver a Abin desvirtuando suas funções, invadindo um campo que não é próprio de um trabalho de inteligência no estado democrático de direito", disse o político pernambucano que integra a base de apoio da presidente Dilma Rousseff, mas tenta construir sua candidatura à sucessão da aliada no ano que vem.

Campos tem interesse direto na questão, já que o Porto de Suape, um dos maiores do País, fica em Pernambuco. Ele é contra a MP dos Portos, principalmente pelo fato de a medida retirar dos Estados a autonomia para realizar licitações de novos terminais. Por causa disso, vem se reunindo com sindicalistas para enfrentar o governo no debate da MP, que ainda precisa passar pelos plenários da Câmara e do Senado.

Campos deu suas declarações sobre a ação da Abin durante entrevista coletiva na sede da Federação das Associações Comerciais e de Serviços do Rio Grande do Sul (Federasul), onde fez palestra para empresários.

"A primeira nota falava que não tinha nada nessa direção e agora há documentos dizendo que há", afirmou o governador pernambucano, referindo-se à nota oficial do governo que reagia à reportagem do Estado que revelou o monitoramento e ao documento, obtido pelo jornal posteriormente, que comprova a ação da Abin nos portos do país".

"Esse trabalho (de monitoriamento) vai ate onde manda a lei que disciplina a Abin?", questionou Campos. "Se for, tudo bem, mas se esse trabalho está indo além das competências da Abin e invadindo o direito de livre organização sindical, de luta dos trabalhadores, aí isso é preocupante", disse. "Não quero crer que vá até aí, seria uma grande decepção para todos nós se tivesse comprovada esse tipo de transgressão por parte da Abin num governo que nós apoiamos."

"Coisa normal". O vice-presidente da República, Michel Temer, comentou rapidamente, ontem, a operação da Abin. "E uma coisa normal, que ocorre permanentemente, diariamente, e não só com sindicatos. Ocorre com movimentos supostamente grevistas e movimentos em geral em todo o País, não é específica de sindicatos. Afinal, as autoridades públicas devem ter conhecimento do que acontece no País", disse o peemedebista no Rio.

Já o governador de São Paulo, o opositor Geraldo Alckmin (PSDB), pediu hoje que o governo federal explique a ação da Abin. Após cerimônia em Campinas, Alckmin criticou o fato de o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI) ter negado a operação, na semana passada, e só ter assumido o ocorrido após o Estado ter mostrado o documento que comprovava o monitoramento. "A gente deve esperar que o governo federal explique quais foram os objetivos, por que fez." / Colaboraram Luciana Nunes Lela e Gustavo Porto.

"É normal"

Michel Temer

Vice-Presidente da República

"É uma coisa normal, que ocorre permanentemente, diariamente, e não só com sindicatos. Ocorre com movimentos supostamente grevistas e movimentos em geral em todo o País"