Título: Inflação fura teto da meta em 4 de 11 regiões
Autor: Amorim, Daniela ; Nunes, Fernanda
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2013, Economia, p. B4

IPCA vai sair hoje, juros futuros sobem e sinalizam ultrapassagem da meta de 6,5%

O teto da meta inflacionária já foi ultrapassado em 4 das 11 regiões pesquisadas pelo IBGE para o cálculo do índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A meta de inflação é 4,5%, com tolerância de 2 pontos porcentuais para cima e para baixo.

Em fevereiro, a taxa acumulada em 12 meses nesses locais, todos no Norte e Nordeste, rodava com aumentos de preços em nível bem acima do teto de 6,5% estipulado pelo governo.

Economistas consultados pelo Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado, previam ontem que o IPCA de março, que será divulgado hoje, ultrapassaria a meta. Para a maioria esmagadora das 45 instituições financeiras consultadas, o indicador ficaria entre 6,5% e 6,7%.

Se o IPCA superar o teto no acumulado em 12 meses, será a primeira vez que isso acontecerá desde novembro de 2011, quando a taxa foi de 6,64%. Em dezembro de 2011, a mesma taxa bateu em exatos 6,5% e, por pouco, o número, que representou o equivalente ao acumulado daquele ano, não superou o limite tolerado dentro da banda de inflação.

Na véspera da divulgação do IPCA de março, as taxas futuras de juros, principalmente de curto prazo, voltaram a subir, indicando que os investidores acreditam que o Banco Central deve elevar a Selic (que está em 7,25%), na semana que vem. Antes, a expectativa era de alta só em maio.

Profissionais de mercado atribuem as apostas em uma alta imediata dos juros a três fatores. Eles dizem que é há forte risco de a inflação ser mais alta do que estava sendo prevista.

Também citam o encontro da presidente Dilma Rousseff com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o secretário do Tesouro Nacional, Amo Augustin, e três economistas - Delfim Netto, Luiz Gonzaga Belluzzo e Yoshiaki Nakano - como sinal de preocupação com a inflação.

Além disso, o discurso feito na segunda-feira pelo presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, na abertura do 26º Fórum da Liberdade, em Porto Alegre, reforçou a impressão que o BC vai elevar os juros.

Inflação regional. O que os dados do IBGE mostram que a inflação acumulada até fevereiro superou a meta no Recife (7,44%), em Fortaleza (8,31%), Salvador (7,05%) e Belém (8,75%). A causa principal é o encarecimento da mandioca.

O teto da inflação nessas cidades foi ultrapassado há meses. O teto foi superado em Belém em outubro de 2012, quando a inflação atingiu 7,06%. No Recife, a inflação acumulada em 12 meses está acima da meta desde outubro: 6,87%. Em Fortaleza, desde dezembro de 2012, ao atingir 6,7%, enquanto em Salvador a taxa chegou a 6,74% em janeiro.

Com a antecipação da disputa eleitoral à Presidência da República, a inflação nessas cidades é motivo de preocupação econômica e também política. A entrada do governador pernambucano, Eduardo Campos, no jogo, em 2014, e a disparada de preços em Recife elevam a importância do controle da inflação no Nordeste na campanha eleitoral.

Alimentos. A contenção dos preços dos alimentos deverá ser o foco de atuação da equipe econômica. "A alta de preços dos alimentos in natura ocorreu nacionalmente . Mas os alimentos têm maior peso no cálculo da inflação em cidades com menos renda, como as da Região Nordeste", destacou o economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) André Braz. Se em São Paulo as despesas com alimentação e bebidas respondem por 22,9% da inflação, em Fortaleza, essa fatia sobe para 31,7%.

Rafael Coutinho Costa Lima, da Faculdade de Economia da USP e coordenador da Fipe, acrescenta que, nessas regiões, a melhora do rendimento mensal tem mais efeito sobre a inflação de alimentos, já que, nesses locais, a população tende a gastar mais com as compras de supermercados do que em São Paulo ou Rio de Janeiro, onde o IPCA em 12 meses não atingiu o teto da meta até fevereiro (5,54% e 6,19%, respectivamente).

Apenas a farinha de mandioca, com grande participação na alimentação no Norte e Nordeste, ficou 16,15% mais cara em fevereiro./ Colaboraram Flavio Leonel, Maria Regina Silva e Denise Abarca