Título: `Radicalidade¿ espanta o presidente
Autor: Isabel Braga e Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 01/03/2005, O País, p. 8

A estratégia do governo para tentar abafar a ofensiva da oposição em cima da polêmica declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é minimizar o episódio e mudar a agenda política com a votação de propostas na pauta do Congresso, como a emenda constitucional da Previdência e a Lei de Biossegurança. Em reunião com peemedebistas ontem, no Planalto, Lula manifestou-se sobre o assunto, dizendo-se surpreso com a ¿radicalidade¿ da oposição e afirmando que fará todo o possível para que a polêmica não afete a economia do país.

Após o encontro, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), apostava na superação da crise política desencadeada pela confissão de Lula de que teria proibido um assessor de divulgar irregularidades no governo passado:

¿ A temperatura está baixando, as coisas começam a serenar. É difícil desdobrar uma declaração numa crise relevante. E no que eu puder colaborar para ajudar, eu vou.

O presidente do Senado disse que Lula falou, no encontro de ontem com o PMDB, de sua surpresa com a grande repercussão de suas declarações:

¿ A única coisa que o presidente disse é que não estava entendendo a radicalidade e a maneira como os partidos estavam querendo desdobrar suas declarações. O presidente disse que não quer precipitar 2006 e que não entende a radicalização dos partidos. E garantiu que fará o que puder para que nada disso comprometa os rumos da economia e do país.

Renan também tentou justificar as declarações de Lula depois de audiência no Palácio do Planalto:

¿ Ao dizer aquilo, o presidente quis preservar a instituição a que se referia e o ambiente político, uma vez que sabia, mais do que ninguém, que o assunto já estava sendo investigado.

Rocha diz que PSDB quer antecipar debate eleitoral

Sobre as ações da oposição contra o presidente, Renan preferiu não prever resultados:

¿ É muito difícil falar de uma representação que tramita na Câmara. Posso dizer que os pedidos de convocação do ministro José Dirceu serão conciliados com os demais que aguardam apreciação do Senado.

Na Câmara, os petistas saíram em defesa de Lula. O líder do PT, Paulo Rocha (PA), explicou que o presidente falava para prefeitos eleitos e fez o comentário para aconselhá-los a olhar para a frente.

¿ Não há crime, não há prevaricação, não há conivência com a corrupção. O PSDB está radicalizando porque quer antecipar o debate eleitoral.

No Senado, Paulo Paim (PT-RS) interpretou as críticas da oposição como uma tentativa de intimidar o presidente para que ele deixe de falar de improviso para a população, usando uma de suas principais qualidades.

-¿ As relações históricas e de respeito entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e entre o PT e o PSDB, não serão abaladas pelo episódio do discurso. Além do mais, o povo quer governabilidade e as dificuldades momentâneas passam ¿ disse o vice-presidente do Senado, Tião Viana (PT-AC).

Os petistas adotaram o discurso do chefe da Casa Civil, José Dirceu, e acusam o PSDB de tentar criar uma crise com o objetivo de turvar a visão do momento de tranqüilidade que o país vive na economia.