Título: País aproveita demanda externa e capta US$ 1 bi
Autor: Martha Beck e Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 01/03/2005, Economia, p. 27

O governo aproveitou ontem a demanda de investidores por títulos brasileiros e o excesso de recursos (especialmente em dólar) no sistema financeiro internacional para fazer mais uma captação de recursos no mercado externo. Desta vez, o Tesouro Nacional emitiu bônus de US$ 1 bilhão. O título, um global com vencimento em 2015, terá prazo de dez anos, e o ganho para os investidores será de 7,9% ao ano. Esse valor representa 3,53 pontos percentuais a mais do que o retorno do papel do Tesouro americano com dez anos de prazo. Segundo fontes ligadas à operação, a demanda teria chegado a US$ 3 bilhões.

Esta foi a terceira captação do ano, sendo que a oferta foi de papéis com prazo mais curto que a anterior. No dia 31 de janeiro, o Tesouro fez uma captação de US$ 1,25 bilhão, sendo que o bônus tinha um prazo de 20 anos, com vencimento em 2025, e rendimento para os investidores de 8,9%.

Tesouro só precisa emitir mais US$ 1,6 bi em 2005

A primeira captação feita este ano foi de 500 milhões de euros, ou US$ 648 milhões. Com a segunda, de US$ 1,25 bilhão, e a realizada ontem, o Tesouro Nacional já captou US$ 2,898 bilhões em 2005. Além disso, no ano passado foi captado antecipadamente US$ 1,5 bilhão.

A meta do governo para este ano era captar US$ 6 bilhões. Portanto, agora só é preciso emitir US$ 1,6 bilhão em 2005. Os recursos vão diretamente para as reservas internacionais e são usados unicamente no pagamento da dívida externa do governo. O dinheiro não é usado em gastos correntes ou investimentos públicos.

A emissão de ontem foi liderada pelos bancos Citigroup Global Markets e JP Morgan Securities. O título foi ofertado a 99,829% de seu valor de face. A liquidação financeira será feita no dia 7 de março e os cupons (ganhos) serão pagos nos dias 7 de setembro e 7 de março de cada ano, até o vencimento em 7 de março de 2015.

A dívida externa brasileira tem hoje um estoque de R$ 203,6 bilhões. A idéia do Tesouro para administrá-la este ano é ampliar o número de investidores e controlar o passivo por meio de novas emissões e de operações de troca de papéis. Segundo dados do Plano Anual de Financiamento (PAF), do Tesouro Nacional, o número médio de investidores que participam das emissões já aumentou mais de 400% em relação a 2002.

¿ A economia está indo bem e o Banco Central está conduzindo a política monetária de maneira muito eficiente ¿ disse à Bloomberg Raphael Kassin, diretor do setor de renda fixa de mercados emergentes no ABN Amro Management Services Ltd. de Londres, que administra US$ 1,3 bilhão em ativos de mercados emergentes, entre os quais bônus brasileiros. ¿ O governo está mantendo as vendas de bônus em um bom ritmo e conseguirá, até o fim do primeiro semestre deste ano, concluir todas as suas captações.

A agência de classificação de risco Fitch atribuiu nota ¿BB-¿ à emissão. Segundo a Fitch, a nota de crédito do Brasil ¿ e, conseqüentemente, a dos títulos emitidos ¿ refletem o bom desempenho comercial do país, a queda de suas dívidas pública e externa e o compromisso do governo com políticas macroeconômicas adequadas.

A nova captação do governo brasileiro ajudou a derrubar a cotação do dólar ontem. A moeda americana encerrou os negócios em queda de 1,15%, a R$ 2,589 para venda, próxima da mínima do dia, de R$ 2,585. Com a queda no último dia de fevereiro, o dólar já acumula nove meses consecutivos de queda em relação ao real.

Embora os recursos não entrem no mercado financeiro, ajudam a fortalecer o real. Isso ocorre porque a forte demanda por ativos brasileiros faz com que empresas locais vendam seus títulos mais facilmente no mercado externo. Ao entrarem no Brasil, os recursos captados ajudam a empurrar a cotação do dólar para baixo.

O risco-Brasil ficou estável em 391 pontos centesimais e o Global 40, título brasileiro mais negociado no mercado internacional, caiu 1,17%, para 115,75% do valor de face.