Título: Distorção
Autor:
Fonte: O Globo, 14/03/2005, Opinião, p. 6

Deve-se reconhecer a abertura do ministro Tarso Genro ao debate. Desde que lançou as primeiras propostas de reforma da sua área, o ministro, político gaúcho traquejado nos embates que são uma marca do Rio Grande do Sul, não se tem furtado ao choque público de idéias. Por isso, pouco mais de três meses depois de lançar a primeira versão da proposta do governo de uma reforma universitária, já é possível identificar os pontos nevrálgicos que dividem as opiniões em torno do projeto.

Há vários aspectos polêmicos na proposta do MEC. Mas um dos mais importantes talvez seja a própria visão ideológica do papel da universidade dentro do país que está por trás de todo o arcabouço da reforma. Por se basear no conceito de que a universidade ¿ pública ou privada ¿ mais do que buscar a excelência acadêmica deve ser uma engrenagem no combate à exclusão social e correia de transmissão das demandas, digamos, populares é que o projeto prevê, por exemplo, a criação de conselhos corporativos nos quais terão assento de representantes sindicais junto ao reitor.

Esse mesmo pressuposto fundamenta a instituição das cotas raciais, tema em debate desde antes da proposta da reforma universitária e cujo destino deverá ser o Supremo Tribunal Federal.

Ora, trata-se de uma distorção opor a excelência acadêmica à solução dos problemas sociais. Porque sem profissionais de nível superior bem formados será impossível superar esse problema como todos queremos.

Para ilustrar a discussão: o Brasil acaba de cair sete posições, para 46º lugar, num ranking do Fórum Mundial dos países que mais usam tecnologia para se desenvolver.