Título: LULA COMUNGA NA PRAÇA DE SÃO PEDRO E DIZ QUE `É UM HOMEM SEM PECADO¿
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 09/04/2005, O Mundo, p. 32

Presidente acompanha o funeral ao lado de centenas de líderes mundiais

CIDADE DO VATICANO. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou emocionado ao participar ontem, na Praça de São Pedro, do funeral e da missa de corpo presente do Papa João Paulo II. Ao lado de centenas de chefes de Estado e de governo, Lula fez questão de comungar, assim como os ex-presidentes José Sarney, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso.

Lula diz que Papa deu lição de ecumenismo

A decisão de comungar foi tomada durante a cerimônia, contou o presidente, inspirado pelos cantos gregorianos, pelo clima criado pelas centenas de autoridades civis e religiosas e pelo calor que emanava das milhares de pessoas que lotaram a praça para participar da missa.

¿ Foi a emoção do momento. Faço a comunhão desde o 1º de Maio de 1979. Para mim é uma coisa natural. A emoção ali era uma coisa muito forte. Tenho sensibilidade e muita. Não sei se vamos viver outro momento como este ¿ disse o presidente, em conversa com jornalistas na Embaixada do Brasil na Itália.

Sobre o fato de não ter confessado antes, o presidente comentou:

¿ Eu sou um homem sem pecado.

Chamou a atenção do presidente Lula o ecumenismo do funeral que, em sua opinião, sintetiza o legado do Papa João Paulo II, que fez 104 viagens pastorais por dezenas de países. O presidente lembrou não apenas a presença dos fiéis e das autoridades mundiais, mas, sobretudo, de representantes das mais diversas religiões. Na sua avaliação, essas presenças foram a consagração de toda a pregação histórica do Papa em favor da tolerância, da perseverança e da luta pela paz mundial.

¿ O Papa mexeu com todos aqueles que vieram aqui e com os que não vieram também. Eu não lembro de nada igual em algum outro momento da História ¿ afirmou o presidente.

¿Ele nos ensinou a arte da convivência na adversidade¿

Impressionado com o funeral que acabara de assistir, Lula destacou também a pluralidade da cerimônia. Disse que todas as religiões, mesmo as que têm conflito com o Papa, estavam presentes e que João Paulo II fez mais do que História:

¿ Ele nos ensinou a arte da convivência na adversidade. É uma pessoa que passou pelo mundo, viajou por mais de cem países, foi aplaudido, foi contestado, mas deixou a sua marca ¿ disse Lula.

O presidente afirmou que viu nessa última homenagem ao Papa o maior exemplo de que a vida vale a pena e de que é muito melhor ser justo e muito mais fácil ser bom e solidário. Compenetrado no funeral, Lula não quis voltar a falar sobre as críticas ao seu catolicismo feitas pelo cardeal-arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Eusébio Scheid. Quando lhe perguntaram se seus comentários e impressões eram as de um bom católico, o presidente foi lacônico:

¿ Não, eu não sei o que é ser um bom católico. Sei o que cada um tem que ser. Acho que nós temos que ser, antes de tudo, bons seres humanos ¿ afirmou Lula.

Presidente ganha charutos de dirigente cubano

Antes de conversar com os jornalistas brasileiros, o presidente recebeu de presente uma caixa de charutos Monte Cristo na audiência que teve com o presidente do Parlamento de Cuba, deputado Ricardo Alarcon. Aproveitou para dizer que o Brasil continua a apoiar os cubanos contra o bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos, mas defendeu a redemocratização do país, governado há mais de 40 anos por Fidel Castro.

¿ O Brasil é parceiro na luta contra o bloqueio, que penaliza os inocentes, velhos e crianças. O Brasil tem lutado para que Cuba tenha uma chance de ter normalidade em sua vida internacional, porque isso vai ajudar a construir um processo democrático ¿ disse Lula.