Título: APENAS 38% DAS UNIVERSIDADES TÊM DOUTORADO
Autor: Demétrio Weber
Fonte: O Globo, 10/04/2005, O País, p. 12

Projeto de reforma universitária exige que instituições ofereçam cursos de pós-graduação para não serem rebaixadas

BRASÍLIA. A maioria das universidades brasileiras não oferece cursos de doutorado e perderia o status de instituição universitária, inclusive a autonomia de criar cursos de graduação, se estivesse em vigor o anteprojeto de reforma universitária do Ministério da Educação. Levantamento realizado pelo GLOBO com base em dados disponíveis na página do MEC na internet mostrou que atualmente apenas 64 universidades ¿ 38,1% do total ¿ atendem às novas regras propostas pelo ministério.

O presidente da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes), Gabriel Mario Rodrigues, admite que a maioria das universidades brasileiras não teria como se adaptar de imediato à exigência do MEC. Ele esclarece o motivo: investir em pesquisa não dá lucro.

¿ Não é rentável. Para fazer pesquisa, há necessidade de órgãos de fomento. As mensalidades não bastam ¿ explica Rodrigues.

Oito anos para a criação de cursos de doutorado

Em fase de discussão com a comunidade acadêmica antes de ser enviado ao Congresso e uma das principais prioridades do ministro da Educação, Tarso Genro, o anteprojeto de reforma prevê que só manterão o título de universidade as instituições que oferecerem no mínimo três cursos de mestrado e um de doutorado reconhecidos pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

O anteprojeto dá prazo de oito anos para a criação de cursos de doutorado, mas prevê que os três mestrados devem estar funcionando já no ano seguinte à aprovação da proposta. Do contrário, as universidades serão rebaixadas, passando à condição de centros universitários. Com isso, perderão a autonomia para criar cursos sem autorização prévia do MEC.

A falta de cursos de doutorado e mestrado, resultado da falta de investimento em pesquisa, não é problema apenas do setor privado. Universidades federais, especialmente na Região Norte, têm a mesma deficiência. O assunto preocupa o MEC, que estuda uma solução, segundo o secretário de Educação Superior, Nelson Maculan:

¿ As universidades federais têm de servir de exemplo. Temos de dar uma prensa nelas ¿ afirma Maculan.

São as federais, no entanto, juntamente com as universidades públicas estaduais, que respondem pela maior parte da pesquisa realizada no meio acadêmico brasileiro. No setor privado, à exceção das Pontifícias Universidades Católicas, o mais comum é a oferta maciça de turmas de graduação ou de cursos seqüenciais e tecnológicos, em detrimento de mestrados e doutorados.

Maior universidade do país em número de alunos, a Estácio de Sá não oferece doutorado. O primeiro mestrado foi recomendado pela Capes só em 2000. Hoje, são cinco cursos do gênero, 3% do que oferece a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em termos de pós-graduação strictu sensu ¿ modalidade que reúne os mestrados acadêmico e profissional e os doutorados.

¿ Os cursos de mestrado dão prejuízo. A universidade vive da graduação, da extensão e da pós-graduação lato sensu ¿ diz o diretor-geral da Vice-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa da Estácio de Sá, Fábio Koifman, informando que a instituição estuda criar cursos de doutorado em breve.

O levantamento do GLOBO cruza dados disponíveis na internet nas páginas da Capes e da Secretaria de Educação Superior. Procurada nas últimas duas semanas, a Capes não quis divulgar balanço sobre o tema.

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