Título: TURISMO DECOLA COM DÓLAR BARATO
Autor: Luciana Rodrigues e Fabiana Ribeiro
Fonte: O Globo, 14/05/2005, Economia, p. 29

Agências registram aumento de até 50% na procura por pacotes para o exterior

A cotação rasante do dólar nos últimos dias - a moeda subiu 0,49% esta semana, mas ainda está abaixo de R$2,50 - fez a festa de operadoras e agências de viagem. As empresas já esperam aumentar em 50% suas vendas para o exterior nas férias de julho, na comparação com o ano passado. Alguns destinos, como Bariloche, já têm datas esgotadas e o turista que pretende embarcar nos próximos meses precisa planejar com antecedência.

Além do vigor da moeda nacional, que torna mais barata a viagem para fora do país, a recuperação, ainda que modesta, da renda dos trabalhadores e a maior oferta de crédito ajudam a aquecer o setor. Operadoras e companhias aéreas parcelam suas vendas em até dez vezes sem juros, com o câmbio fixo da data da compra.

- Viagem é a última alternativa de despesa das famílias. E, este ano, a procura disparou. Para a América do Sul, está difícil obter vaga nos vôos - comemora Marcello Herzage, da agência Valtat, que estima aumento de 50% na procura este ano.

Na operadora Urbi et Orbi, os pacotes em dez prestações para Bariloche devem garantir o embarque de até 1.500 passageiros neste inverno, quase o dobro do ano passado. A operadora terá seis vôos fretados para a cidade argentina, contra apenas três saídas em 2004, quando o prazo para pagar era de seis meses.

- Apesar dos juros mais altos, o crédito agora está mais elástico - afirma Mario Nascimento, gerente de planejamento da Urbi et Orbi.

Cresce ocupação de vôos internacionais

A CVC registrou procura tão grande que precisou reduzir o prazo de pagamento - de dez vezes para quatro - para limitar a demanda e atender todos os clientes. Só os pacotes para a Argentina mantiveram o prazo maior. Weber Cecchetti, gerente comercial da filial internacional no Rio, prevê aumento de 50% das vendas para o exterior este ano:

- O dólar baixo é um forte apelo emocional. E há uma demanda reprimida desde o 11 de Setembro.

Com o dólar - e, por tabela, o euro - ladeira abaixo, Carma Prestes já planeja esticar sua viagem a trabalho para Londres, em junho, com uma ida a Paris. Carma vai pesquisar as vitrines do verão londrino para sua loja de roupas femininas.

O euro subiu com força frente ao dólar no começo deste ano mas, ontem, fechou na sua menor cotação desde outubro do ano passado: US$1,26. No mercado paralelo do Rio, era vendido a R$3,35 ontem.

Os efeitos da baixa do dólar já foram sentidos na American Airlines, afirmou Dilson Verçosa, diretor da companhia área. A taxa de ocupação do vôo Rio-Miami, por exemplo, em abril deste ano, foi de 80%. No mesmo mês de 2004, era de 65%. Ele acrescenta que a forma de pagamento - em 10 vezes sem juros e com o valor já fixo por mês - é decisiva na hora de fechar a compra:

- Os clientes querem aproveitar a baixa do dólar, temem nova alta.

Segundo Francis Richard, diretor da Air France-KLM no Brasil, a companhia sente nos últimos dois anos a recuperação da economia brasileira:

- No ano fiscal 2003-2004, registramos recorde de 300 mil passageiros entre Brasil e França. Em 2004-2005, teremos novo recorde: 376 mil.

Após a queda do dólar, a AFS Intercultura Brasil, entidade de intercâmbios culturais, registrou um aumento de 20% no número de embarques em abril, em comparação com o mesmo período de 2004.

- Um programa que custava em torno de R$22 mil hoje está em R$17 mil. Isso faz a diferença entre ir ou não ir ao exterior - diz Cláudio Benevides, gerente da agência, que teve aumento de 30% nos pagamentos à vista. - Como as parcelas são associadas ao dólar, as pessoas querem aproveitar a baixa.

Marco Aurélio Bessi, gerente comercial da Shangri-Lá, lembra que um pacote Rio-Fortaleza para quatro dias sai hoje a R$1.100, quase o mesmo que os R$1.200 pagos pelo mesmo período em Bariloche. Bessi afirma que as vendas internacionais já responderam por 60% da receita da operadora em abril e espera um aumento de até 30% nas vendas para o exterior este ano.

saiba qual moeda levar na carteira

DÓLAR: O turista pode comprar dólar em espécie ou em cheques de viagem. Os principais bancos de varejo oferecem as duas opções, em alguns casos para não-correntistas. Nas agências de câmbio, o dólar paralelo era vendido ontem entre R$2,60 e R$2,70. Já o dólar turismo - usado na conversão das despesas do cartão de crédito, inclusive na compra de passagens aéreas - fechou a R$2,51.

EURO: Para quem vai para a Europa, o euro é a melhor opção. Mesmo nos países fora da União Européia ou que não aderiram ao euro, a moeda é mais bem aceita no Velho Continente do que o dólar. Além disso, evita-se a despesa com taxas de câmbio nos países onde o euro já é moeda corrente. Muitos bancos, como Bradesco e Citibank, já vendem cheques de viagem em euro. O Banco do Brasil lança seu cheque de viagem em euro segunda-feira. Ontem, nas casas de câmbio do Rio, o euro era vendido por cerca de R$3,35.

CARTÃO PRÉ-PAGO: A Visa oferece uma opção de cartão pré-pago recarregável. O cliente "compra" no Brasil uma quantia em dólares e usa o cartão para pagar despesas e efetuar saques no exterior. A vantagem é a maior segurança, pois evita-se o risco de circular com dinheiro em espécie. O cartão é recarregável e protegido por senha.