Título: DIRCEU: ARTICULAÇÃO DA BASE FRACASSOU
Autor: Maria Lima/Adriana Vasconcelos/Valderez Caetano
Fonte: O Globo, 20/05/2005, O País, p. 3

Ministro e governadores criticam, em jantar com Lula, o apoio de aliados à CPI

BRASÍLIA.O chefe da Casa Civil, José Dirceu, criticou os erros na articulação política do governo, que não conseguiu evitar a CPI dos Correios, e disse que a maior prova de fracasso foi o fato de metade das assinaturas do requerimento ter sido dada por parlamentares da base governista. As críticas de Dirceu foram feitas durante jantar na Granja do Torto, anteontem, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, e os governadores Eduardo Braga (AM), Paulo Hartung (ES), Marcelo Miranda (TO) e Cássio Cunha Lima (PB).

- Mais de 50% das assinaturas para a criação da CPI foram da base aliada - criticou Dirceu.

- Mas alguém disse que não era para assinar? - perguntou o governador Eduardo Braga.

Das 223 assinaturas ao pedido de CPI, 110 eram de aliados e 113 de deputados de oposição. No Senado, os aliados eram 13 entre os 33 que assinaram o requerimento na terça-feira. Ontem, já eram 49 as assinaturas de senadores.

A queixa de Dirceu foi a senha para que os presentes criticassem a coordenação política do governo feita pelo ministro Aldo Rebelo (PCdoB) na frente do presidente Lula, que tem insistido na manutenção do aliado no cargo. Um dos governadores afirmou que não se poderia cobrar dos aliados o fato de terem assinado a CPI pois estes não receberam qualquer orientação expressa para não assinar.

Outro governador, ao comentar a desarticulação do governo na Câmara, afirmou que a classe política não via o ministro Aldo Rebelo como interlocutor do governo. Mas o presidente Lula preferiu fazer uma avaliação mais ampla sobre o conjunto de erros cometidos pelo governo na articulação política e que culminaram com a eleição de Severino Cavalcanti (PP-PE) para a presidência da Câmara.

- O presidente disse que o Severino não se elegeu pelos acertos dele, mas por erros nossos, principalmente do PT. Nós começamos a errar na emenda da reeleição dos presidentes da Câmara e do Senado. O João Paulo se precipitou ao colocar a emenda em votação e ainda havia a disputa entre ele e o Mercadante. Temos que rearrumar a disciplina dentro do PT - afirmou Lula, segundo um dos presentes.

Encontro sobre eleições de 2006 discutiu apenas a crise no Congresso

O encontro, destinado a debater o futuro partidário dos governadores, que estão alinhados com o projeto de reeleição do presidente Lula, acabou tratando apenas da atual situação política. Sobre o futuro partidário dos governadores ficou acertado a realização de um novo encontro. Os presentes deram apenas informes rápidos sobre o tema: Miranda vai para o PMDB, Hartung pode ficar no PSB, Ciro deve ingressar no PSB, Cássio e Braga disseram que ainda estavam avaliando.

- A conversa foi bastante focada nos problemas do Congresso. Mas o presidente não demonstrou preocupação maior com a CPI dos Correios - disse o governador Cássio Cunha Lima.

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OS SIGNATÁRIOS

Dezenove deputados do PT assinaram o requerimento para a abertura da CPI que vai apurar a denúncia de corrupção na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Dos 19 deputados petistas, cinco são considerados moderados no espectro político do partido: André Costa (RJ), Carlos Santana (RJ), Virgílio Guimarães (MG), Wasny de Roure (DF) e Zé Geraldo (PA). Os outros 14 representam correntes mais à esquerda no PT. São eles: Antonio Carlos Biscaia (RJ), Chico Alencar (RJ), Dr. Rosinha (PR), Dra. Clair (PR), Gilmar Machado (MG), Ivan Valente (SP), João Alfredo (CE), Jorge Boeira (SC), Luci Choinacki (SC), Mauro Passos (SC), Nazareno Fonteles (PI), Orlando Fantazzini (SP), Walter Pinheiro (BA), e Paulo Rubem Santiago (PE).

No Senado, nenhum dos 13 representantes do PT assinou ainda o pedido de CPI, mas ontem quatro deles (Cristovam Buarque, Eduardo Suplicy, Tião Viana e Paulo Paim) defenderam a investigação. Foram convencidos pelos líderes a esperar até sábado.