Título: Batalha à vista
Autor: Maria Lima/Adriana Vasconcelos/Valderez Caetano
Fonte: O Globo, 20/05/2005, O País, p. 3

Cresce apoio à CPI dos Correios no Senado, onde até petistas ameaçam assinar

Diante do fracasso de suas tentativas de impedir a realização de uma CPI sobre as denúncias de corrupção nos Correios, o governo começa a se preparar para a batalha no Congresso. Os líderes governistas, embora ainda tentem convencer aliados a retirar suas assinaturas do pedido de abertura da CPI, estão pessimistas e já discutem a indicação de nomes para compor a comissão mista (Câmara e Senado).

Até a noite de ontem, apenas cinco deputados haviam se sensibilizado com os apelos do governo - quatro do PL e um do PP. Com isso, caiu de 222 para 217 o número de deputados que assinam o requerimento. No Senado, ao contrário, a adesão aumentou de 36 para 49 parlamentares. O pessimismo tomou conta dos líderes da base no Senado, onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nunca teve maioria e sofreu suas piores derrotas até agora. Diante do apoio de 60,4% da Casa à criação da CPI, os governistas consideravam remotas as chances de reverter a situação até quarta-feira, quando o requerimento será lido no Congresso. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), acredita que, desta vez, os líderes partidários indicarão seus representantes para a CPI.

Se não bastassem as dificuldades para convencer seus aliados a retirar suas assinaturas do requerimento antes que ele seja lido, o governo ainda está tendo de administrar a pressão de senadores do PT que defendem a instalação da CPI. O líder petista no Senado, Delcídio Amaral (MS), foi obrigado a fazer duas reuniões em menos de 24 horas para conter parte da bancada que gostaria de aderir à proposta da oposição.

Num apelo pela unidade do PT, Delcídio conseguiu convencer os colegas a esperar pela reunião do diretório nacional, amanhã, em São Paulo, antes de tomarem uma decisão. Mesmo assim, diversos petistas foram à tribuna manifestar apoio à investigação, entre eles Eduardo Suplicy (SP), Cristovam Buarque (DF), Tião Viana (AC) e Paulo Paim (RS).

- Vamos aguardar a reunião. Mas o fato é que há um número expressivo de senadores que gostaria de assinar o requerimento da CPI - afirmou Suplicy.

Dirceu e Aldo comandam operação contra a CPI

A operação para tentar impedir a CPI é comandada pelos ministros José Dirceu (Casa Civil) e Aldo Rebelo (Articulação Política). A principal arma do governo são as emendas de parlamentares, já empenhadas mas represadas, que somam R$7,2 bilhões. O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), confirmou que está conversando com os líderes da base para articular a retirada das assinaturas. Ele admitiu, quando perguntado sobre isso, que muitos deputados da base podem ter assinado o pedido para pressionar o governo a liberar emendas.

- Não posso excluir essa hipótese. A liberação de emendas é uma reclamação constante na base. O governo tem que resolver e vai resolver esse problema - disse Chinaglia.

Segundo dados do Sistema Integrado de Informação Financeira (Siafi), este ano, dos mais de R$10 bilhões de emendas parlamentares, o governo só havia liberado até o dia 18 R$214,4 milhões. Até agora já empenhou, mas não pagou, o equivalente a R$2,27 bilhões. Já estão empenhadas também no caixa do Tesouro, como restos a pagar, outros R$4,89 bilhões remanescentes do Orçamento de 2004.

No fim do dia, o líder do PT na Câmara, Paulo Rocha (PA), foi chamado para reunião no Planalto. Saiu dizendo que o governo não vai permitir que se use a CPI como instrumento político:

- A oposição tem que usar a CPI como instrumento de investigação. Tirar e pôr assinaturas é estratégia da disputa política.

O fato de 19 petistas estarem mantendo as assinaturas indignou parlamentares da base que estão sendo pressionados a retirar os nomes.

- Enquanto o PT tiver assinaturas lá, nenhum partido da base tem que ser solidário com o governo - protestou Ricardo Barros (PP-PR), que assinou e não pretende voltar atrás.

O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), engrossou as fileiras da tropa que tenta esvaziar a CPI. Embora garanta que nada fará para impedir sua instalação, abordou ontem no plenário um grupo de petistas, entre eles Chico Alencar (RJ), para tentar convencê-los a retirar suas assinaturas.

Ontem, em nota conjunta, os líderes do PFL, Rodrigo Maia (RJ), e do PSDB, Alberto Goldman (SP), disseram que a oposição não medirá esforços para "apurar até o fim as denúncias de corrupção e desvios que pairam" sobre o governo Lula ou qualquer outro governo. Os líderes acrescentam ainda que é a base quem impede o funcionamento das CPIs.

COLABORARAM: Luisa Damé e Isabel Braga

"Há um número expressivo de senadores que gostaria de assinar o requerimento da CPI"

EDUARDO SUPLICY , Senador (PT-SP)

"A liberação de emendas é uma reclamação constante na base. O governo tem que resolver isso"

ARLINDO CHINAGLIA , Líder do governo na Câmara (PT-SP)

Legenda da foto: RENAN E SEVERINO conversam no Congresso: aliados de Lula têm poucas esperanças de ainda conseguir impedir a instalação da CPI dos Correios