Título: Bloco de oposição no Senado poderá escolher presidente ou relator de CPI
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 20/05/2005, O País, p. 4

Regimento determina que cargos devem ficar com senadores de PSDB e PFL

BRASÍLIA. O bloco de oposição no Senado, formado pelos 29 senadores do PSDB e do PFL, é que tem o direito regimental de indicar o presidente ou o relator da CPI dos Correios se ela for mesmo instalada. Para evitar isso, os governistas terão que desrespeitar a regra da proporcionalidade, que dá direito aos maiores partidos ou blocos de ocupar a presidência e a relatoria das comissões de inquérito. Esta, segundo líderes aliados, será a primeira batalha após a instalação da CPI e os partidos do governo terão que derrotar a oposição no voto para mudar as regras do jogo, o que acirrará ainda mais os ânimos.

A informação de que a oposição é que tem direito de indicar o presidente ou o relator só foi dada ontem à noite, pelo secretário-geral da Mesa do Senado, Raimundo Carrero, ao presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL). Até então, acreditava-se que a relatoria e a presidência ficariam com PT e PMDB, aliados.

- Um ministro me perguntou como as coisas estavam andando, respondi que elas andam pelo regimento e pela Constituição. Mas é claro que estas questões políticas sempre envolvem a possibilidade de um acordo - disse Renan.

PT queria peemedebista assumindo relatoria

A questão deve provocar uma reviravolta na tática do PT, no caso de a CPI ser criada. Os petistas supunham que o PMDB era o maior partido do Senado e queriam que um peemedebista assumisse a relatoria, pois, para o PT, não é interessante ficar com o ônus de inocentar ou culpar os que serão investigados. Ontem diversos petistas, entre os quais João Paulo Cunha (SP), Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) e Sigmaringa Seixas (DF), disseram a colegas que não gostariam de assumir a relatoria.

Para os petistas, o mais importante para manter a CPI sob controle é assumir a presidência, mas talvez tenham que mudar os planos para não deixar a relatoria nas mãos de um senador de oposição.

- Não queremos que se repita a experiência da CPI do Banestado, que foi presidida pelo senador Antero de Barros (PSDB-MT) - disse o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP).

Os governistas deverão ter entre 20 e 22 dos 32 integrantes da CPI mista. Isso lhes dá a garantia de que nenhum relatório de cunho oposicionista será aprovado. Para isso, porém, eles teriam de passar pela desgastante tarefa de derrotar o relator.

Outro problema é o da alternância entre Câmara e Senado. A última CPI mista criada, a da Terra, tem como presidente o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), e como relator o deputado João Alfredo (PT-CE). Pelo sistema de rodízio seria a vez de um presidente da Câmara, indicado pelo PT, e um relator do Senado, indicado pelo bloco de oposição. Mas como o presidente é eleito pela comissão e cabe a este indicar o relator, os governistas podem usar o fato de serem maioria para romper com a prática e garantir maior tranqüilidade na investigação.

Severino exige cargo na Petrobras

'O presidente me ofereceu a diretoria que fura poço e acha petróleo'

BRASÍLIA. Na conversa com a ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, anteontem, sobre a indicação de um apadrinhado seu, o pernambucano Djalma Rodrigues, para uma diretoria da Petrobras, o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), foi direto:

- Eu quero o cargo que o presidente Lula me ofereceu durante a viagem a Roma - disse, referindo-se à diretoria de Exploração e Produção da estatal.

A ministra ofereceu outra diretoria para Rodrigues, que é funcionário de carreira da Petrobras, ponderando que a área técnica da empresa não aceita mudanças na diretoria de Exploração, uma das mais estratégicas da empresa.

- Podemos ver outra diretoria... - disse a ministra.

Severino bateu o pé:

- O que o presidente me ofereceu foi aquela diretoria que fura poço e acha petróleo. É essa que eu quero.

Diante disso, o assunto ficou sem solução. Mas Severino ainda aguarda o cumprimento da promessa de Lula. Hoje, a ministra Dilma terá encontro com o presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra, quando deverão tratar do assunto.

Legenda da foto: JOÃO PAULO CUNHA e Luiz Eduardo Greenhalgh: cotados para a relatoria, já avisaram que não vão aceitar