Título: PROCURADOR DIZ QUE DIRETOR SE BENEFICIAVA
Autor: Rodrigo Rangel e Anselmo Carvalho Pinto
Fonte: O Globo, 03/06/2005, O País, p. 3

SÃO PAULO e BRASÍLIA. O procurador da República em Mato Grosso Mário Lúcio Avelar, que comanda as investigações sobre a máfia da extração ilegal de madeira na Amazônia, disse ter depoimentos de testemunhas mostrando que Antonio Carlos Hummel, diretor de Florestas do Ibama em Brasília, se beneficiava financeiramente com o esquema de corrupção no órgão.

O procurador disse que pediu a prisão de Hummel tanto por omissão, já que ele sabia das fraudes há dez anos e nunca tomou providência para impedi-las, como também baseado nos depoimentos prestados ao Ministério Público Federal (MPF) em Cuiabá.

- A ação de Hummel se dava de várias formas, inclusive por omissão. Ele tinha conhecimento de todas as fraudes há mais de dez anos e nunca tomou providência para impedir que acontecessem. E o pior: ele autorizou operações ilegais que levaram à comercialização de dez milhões de metros cúbicos de madeira de forma ilegal nos últimos anos - disse Avelar.

O procurador afirma que a "farra de autorizações" acontecia dentro da diretoria de Florestas do Ibama e não apenas em Mato Grosso, mas também em Rondônia, Pará, Acre, Tocantins e até na Bahia.

Segundo Avelar, as testemunhas afirmam que o diretor de Florestas se beneficiava financeiramente do esquema.

- Tenho o depoimento de um engenheiro florestal que diz que o diretor do Ibama em Brasília se beneficiava financeiramente com o esquema.

Ele diz que Hummel autorizou inúmeras operações ilegais para a exploração de madeira em todo o país e especialmente em Mato Grosso.

- Ele autorizou a instalação de 67 empresas em terras indígenas, que levaram à comercialização ilegal de 2,9 milhões de metros cúbicos de madeira. Ele autorizou a ação de 75 empresas em projetos de desmatamento sem coordenada geográfica, que levaram à comercialização ilegal de 4.320 milhões de metros cúbicos de madeira - disse o procurador ao GLOBO.

Funcionário de carreira do Ibama, Antônio Carlos Hummel, de 50 anos, foi incorporado aos quadros da instituição após a extinção do Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF). Formado em engenharia florestal, ocupa um cargo no Ibama responsável pela concessão de planos de manejo e autorizações de exploração madeireira e também administra as florestas nacionais.

Homem de confiança do presidente do Ibama, Marcus Barros, Hummel foi nomeado pela ministra Marina Silva. O envolvimento dele na denúncia de irregularidades no órgão federal pegou de surpresa colegas de trabalho e dirigentes do Ministério do Meio Ambiente. Respeitado dentro do Ibama, Hummel conquistou desafetos no Pará ao defender a suspensão de antigas autorizações de exploração de madeira. Com mestrado em Ciências de Florestas Tropicais, Hummel já atuou na gerência do Ibama no Amazonas e foi professor universitário.