Título: Palocci diz que não muda a política monetária
Autor: Martha Beck e Regina Alvarez
Fonte: O Globo, 02/06/2005, Economia, p. 25

Ministro defende atuação do Banco Central e assegura que governo vai manter meta de inflação a curto prazo

BRASÍLIA. Um dia depois de as altas taxas de juros do Banco Central (BC) terem sido consideradas as maiores responsáveis pelo desaquecimento da economia no primeiro trimestre de 2005, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, saiu ontem em defesa da política monetária. Ele disse que o aumento de apenas 0,3% no PIB não põe em xeque a atuação do BC. Ao contrário, diz, mostra que houve eficiência no combate à inflação, o que garante o crescimento econômico do país a longo prazo. O ministro disse que os resultados da economia este ano não estão comprometidos e descartou mudanças nas metas de inflação.

SUPERÁVIT PRIMÁRIO: "Eu penso que o superávit primário tem se mostrado suficiente para colocar a dívida pública em trajetória de queda. O Brasil teve dificuldades para fazer com que essa dívida caísse nos últimos dez anos, mas agora ela está numa trajetória declinante. O mais importante agora é que o esforço fiscal está sendo feito de maneira efetiva para reduzir a dívida e controlar a inflação."

CRESCIMENTO: "O crescimento não está comprometido este ano. O que houve nos dois últimos trimestres foi uma acomodação. Quando a política monetária opera num sentido mais restritivo para controlar a inflação, é esperado que haja um arrefecimento desse tipo. Mas esse é o oitavo trimestre consecutivo de crescimento, o que é importante para que a economia ganhe sustentabilidade. Há sinais importantes de aceleração da trajetória de crescimento nos próximos meses. O Brasil vai atingir seus objetivos de controlar a inflação, crescer e reduzir a dívida. Eu não costumo fazer previsões sobre números, mas penso que vamos ter um resultado positivo."

POLÍTICA MONETÁRIA X BAIXO CRESCIMENTO: "Eu penso que nós não podemos ver o combate à inflação como um dado ruim para a realidade. A defesa dos salários e da renda é um elemento fundamental do combate à inflação porque é o crescimento dos salários e da renda que pode garantir um crescimento econômico de longo prazo. Eu prefiro um país que esteja realizando um esforço com perspectiva de manter a inflação sob controle do que um país que comemore números de crescimento tendo diante de si uma inflação de longo prazo. Não trocaremos um eventual ganho de curtíssimo prazo por uma perda de longo prazo."

INVESTIMENTOS: "Eu penso que os indicadores continuam positivos. Algumas pessoas ressaltaram a questão do investimento, mas ele é o primeiro fator que reage quando você tem restrição da política monetária e também o primeiro que reage quando tem flexibilização. A curva do investimento tem uma lógica com a política monetária. Mesmo assim, nos primeiros quatro meses deste ano, o investimento estrangeiro direto no país foi de US$6,5 bilhões, contra US$3,1 bilhões no mesmo período no ano passado. Já nos 12 meses terminados em abril, os investimentos chegam a US$21,5 bilhões. Eles eram de US$10,4 bilhões no ano passado."

PAPEL DO BANCO CENTRAL: "Não penso que o resultado do PIB no primeiro trimestre questione a política monetária. Ele mostra a correção da política monetária. O Banco Central fez um diagnóstico antecipado de pressão inflacionária. Quando esse diagnóstico foi feito em agosto e setembro do ano passado, a pressão não era totalmente percebida pela sociedade. O esforço feito respondeu à necessidade de colocar a inflação numa trajetória de queda. Os resultados mostram que o Banco Central agiu na hora certa, atacando um problema que era real. Foi uma ação prudente e correta."

AGENDA MICROECONÔMICA: "O que nós estamos buscando fazer é ordenar a nossa pauta para que o Brasil consiga aumentar seu PIB potencial. O nosso problema agora é tomar as medidas necessárias para que o nosso PIB potencial mude de patamar e não fique num máximo de 3,5% ou 4%, como projeta o mercado."

CÂMBIO: "Temos um compromisso na política cambial que é de câmbio flutuante. Não acreditamos que dar um valor para o câmbio seja virtuoso porque, muitas vezes, você não consegue dar o valor que pretende ou acaba trazendo custos que a sociedade paga. Desde janeiro de 2003, tenho recebido críticos que dizem que três meses à frente teremos uma crise no comércio exterior. Mas passados dois anos e quatro meses, nada disso aconteceu. Se por um lado o câmbio afeta um setor ou outro, por outro, o nosso esforço vai ter resultados positivos no futuro."

METAS DE INFLAÇÃO: "Toda discussão sobre metas de inflação é cabível e respeitável. Eu não vejo como algo negativo quando o senador Mercadante (o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante) ou outros colocam questões sobre esse assunto. Mas não tem sido positivo para o Brasil aceitar um pouco mais inflação. Não podemos ser lenientes nem dar folga para a inflação. E se nós queremos convergir os índices para patamares menores, sabemos que isso vai ser feito num período mais longo. Em 2003, avizinhava-se uma inflação fora de controle. Agora, o combate é mais de médio prazo. Não se trata de uma crise aguda."

ANATEL ADMITE QUE REPASSOU DADOS AO IBGE, na página 26

Legenda da foto: ANTONIO PALOCCI: "O crescimento não está comprometido este ano"