Título: FREIO NA ENTRADA DE DIVISAS NO PAÍS
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 02/06/2005, Economia, p. 27

Maio registrou primeiro déficit cambial em 6 meses: US$811 milhões

BRASÍLIA. O mercado de câmbio deixou de apresentar o elevado fluxo de entrada de recursos registrado entre dezembro de 2004 e março deste ano. Em maio, houve um déficit cambial de US$811 milhões, pela primeira vez em seis meses. O resultado negativo se deve à saída líquida de US$5,069 bilhões em operações financeiras (como financiamentos), compensadas em parte pelo superávit comercial, de US$4,258 bilhões no mês.

Os dados não indicam fuga de capitais. Tanto há oferta abundante de dólares internamente que o Tesouro Nacional decidiu, a partir de abril, comprar antecipadamente moeda americana para o pagamento de dívida externa do setor público que vence no segundo semestre de 2005.

O Banco Central iniciou um programa de compra de dólares em janeiro de 2004 e interrompeu suas aquisições no mercado à vista em 16 de março último. Alguns dias antes, no dia 9 daquele mês, o BC fez sua última atuação no mercado futuro. A estratégia era atuar só nos momentos de excesso de oferta da moeda americana, evitando influenciar as cotações. A moeda adquirida no mercado servia para aumentar o volume das reservas internacionais do país.

Reservas internacionais estão em US$60 bi

As operações do Banco Central somaram US$5,274 bilhões no ano passado e US$10,219 bilhões este ano. Com um fluxo menor de recursos a partir de março, o BC saiu temporariamente do mercado e deixou o Tesouro Nacional sozinho realizando suas compras de dólar.

Esses contratos de câmbio podem ser feitos com 180 dias de antecedência e pela cotação atual. As operações, feitas por intermédio do Banco do Brasil, têm por objetivo os vencimentos de dívidas em novembro próximo. Segundo o BC, o Tesouro Nacional tem compromissos externos de US$906 milhões nos meses de maio e junho e de US$2,089 bilhões a vencer no segundo semestre deste ano.

Ao fechar o contrato, o comprador influencia a cotação do dia, uma vez que os bancos são obrigados a alterar sua posição de câmbio. Na contas do Banco Central, uma compra futura como a do Tesouro exige uma operação de depósito no exterior pela instituição financeira, o que gera uma remessa para outro país. As compras do Tesouro ajudam o governo a economizar reservas internacionais, que estão em US$60,709 bilhões.

Conta financeira está negativa em US$9 bi

Em maio, o déficit da conta financeira - incluindo investimento direto (produtivo, das empresas) - do país foi de US$5,069 bilhões com vendas de US$11,961 bilhões e compras de US$6,893 bilhões. Em 2005, a conta está negativa em US$9,316 bilhões, próximo do déficit de US$9,175 bilhões de igual período de 2004.