Título: Sob pressão, Lula demite cúpulas de Correios e IRB
Autor: Ilimar Franco e Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 08/06/2005, O País, p. 5

Demissões ocorrem três semanas após a primeira denúncia e não atingem todos os indicados pelo PTB de Jefferson

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afastou ontem os presidentes dos Correios, João Henrique de Almeida Souza, e do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB), Luiz Appolonio Neto. Também determinou a demissão de cinco diretores dos Correios e do vice-presidente e quatro diretores do IRB. A decisão, tomada três semanas após a denúncia sobre a existência de um esquema de corrupção nos Correios e no IRB, foi comunicada aos ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e das Comunicações, Eunício Oliveira, no fim da manhã de ontem. O presidente do PTB e agora inimigo do governo, Roberto Jefferson, ainda continua, porém, que aliados em importantes cargos, como na BR Distribuidora e na CEF, entre outros.

Antes de recebê-los, Lula informou ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que adotaria medidas para proteger as instituições.

- Lula afirmou que tomaria providências para proteger as instituições. Dei meu apoio, dizendo que ele deveria fazer absolutamente tudo para preservar sua biografia e as instituições - disse Renan, correligionário do presidente dos Correios.

Ontem mesmo, Palocci anunciou que Marcos Lisboa, ex-secretário de Política Econômica, assumiria o comando do IRB. Nos Correios foram demitidos os diretores que tinham apoio partidário: o de Tecnologia, Eduardo Medeiros de Morais; e de Operações, Maurício Coelho Madureira, ambos do quadro da empresa, mas cujas nomeações tiveram o apoio do PT; o Comercial, Carlos Fioravante da Costa, indicado pelo senador Helio Costa (PMDB-MG); o de Recursos Humanos, Robinson Viana da Silva, afilhado do líder do PMDB, Ney Suassuna (PB); e Ricardo Suñer Caddah, respaldado pelo líder do PMDB na Câmara, José Borba (PR).

No início da crise, Antonio Osório, indicado pelo presidente do PTB, Roberto Jefferson, afastou-se da diretoria de Administração dos Correios. Ontem foi exonerado.

- Conversei com o presidente dos Correios e expus a preocupação do presidente. Mas o afastamento dele e da diretoria não significa nada contra eles. Não há nada contra eles e nem há prejulgamento. O afastamento demonstra mais ainda a isenção do governo no sentido de se fazer as investigações. O presidente pediu uma solução e eu e o ministro Palocci concordamos que essa era a melhor - disse Eunício Oliveira.

No IRB, além do presidente, foram demitidos três diretores. O deputado Delfim Netto (PP-SP), tio do presidente do IRB, afastado dois meses depois de assumir o cargo, ironizou, cobrando outras demissões:

- Qualquer governo faz isso. Licencia os diretores durante a investigação. Mas esta decisão chegou tarde e era o que deveria ser feito no BC.

Decisão foi tomada na reunião de segunda-feira

A decisão de demitir as diretorias dos Correios e do IRB foi tomada na reunião da coordenação de segunda-feira com o objetivo de dar uma demonstração pública de que o governo quer fazer uma investigação isenta e rigorosa sobre eventuais irregularidades. Mas só foi anunciada ontem, porque os estrategistas do Palácio do Planalto não queriam que esta questão fosse vista como resposta às declarações do presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), de que havia um esquema de pagamento de mesadas para deputados do PP e do PL.

As demissões ocorreram também porque Lula concluiu que o governo estava passando uma imagem de frouxidão diante das denúncias. Ontem, na reunião no Planalto, Lula disse aos ministros que era preciso dar "solução definitiva" aos casos dos Correios e do IRB. Imediatamente, Eunício e Palocci comunicaram a posição aos presidentes dos Correios e do IRB.

Pelo segundo dia consecutivo, Lula modificou sua agenda e passou o dia em reuniões com ministros e assessores diretos para analisar a crise política. De manhã, permaneceu em encontros com os ministros Palocci (Fazenda), Aldo Rebelo (Coordenação Política) e Luiz Gushiken (Secretaria de Comunicação de Governo). Por causa da crise, Lula cancelou o almoço no Itamaraty que ofereceria ao primeiro-ministro de Belize, Said Musa. Participou apenas de uma cerimônia rápida em homenagem ao visitante no Salão Leste do Palácio do Planalto.

OAB-SP defende CPI e vigília contra corrupção

SÃO PAULO. O presidente da seção paulista da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Luiz Flávio Borges D'Urso, considerou gravíssimas as denúncias sobre a compra de votos no Congresso e defendeu a instalação de uma CPI para apurar o mensalão. Para D'Urso, é fundamental que se preserve o país de uma crise institucional que, disse, poderia ser provocada pelo aprofundamento da atual crise política no governo e no Congresso.

A entidade sugere que a sociedade civil se reúna amanhã na sua sede para uma vigília contra a corrupção. Em nota, a OAB-SP disse que pretende conclamar deputados e senadores a instalar a CPI para apurar as denúncias de corrupção nos Correios, incorporando as denúncias de pagamento de propina a parlamentares.

Agora vale só o inquérito

Diferentemente do que fez ontem, quando afastou dirigentes dos Correios e do IRB sem esperar o fim das investigações, o presidente Lula disse que esperará a conclusão das apurações das denúncias contra o ministro da Previdência, Romero Jucá, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, defendendo-os publicamente em diversas ocasiões e dizendo que ninguém pode fazer prejulgamentos:

"Só posso tomar uma atitude quando houver uma conclusão. O que quero para mim, faço para os outros. Não quero ser julgado antecipadamente, quero direito de defesa" (sobre Meirelles)

"O que estamos assistindo no Brasil há alguns anos são pessoas serem condenadas e massacradas por manchetes de jornais"

"Não posso tirar ou pôr um ministro em função desta ou daquela manchete de jornal" (ao comentar denúncias contra Jucá)

"Por enquanto, há muitas insinuações. Quem é político, sabe o que significam insinuações O 'eu acho' e o 'eu penso' não adiantam. É preciso que surjam coisas concretas" (sobre acusações ao ministro da Previdência)

"Eu primo por entender que todo ser humano é inocente até prova em contrário. Há denúncia, tem que apurar. Na hora em que tiver esse veredicto, tomarei a posição que tiver de tomar. Por enquanto, o ministro Jucá está cumprindo uma tarefa que dei a ele, que é a de tentar acabar com o déficit da Previdência"