Título: METAS JUSTAS
Autor:
Fonte: O Globo, 12/06/2005, Opinião, p. 6

A economia brasileira não concluiu seu processo de ajustes estruturais, seja no que se refere às finanças públicas ou às contas externas do país - embora já se tenha avançado muito, em ambos os casos. Mas a verdade é que tanto a dívida pública interna como o endividamento em moeda estrangeira ainda são relativamente altos e criam constrangimentos ao crescimento econômico e dificultam o combate à inflação.

Até que esses ajustes estruturais estejam concluídos, o Brasil terá de conviver com uma política monetária restritiva, alicerçada em taxas de juros elevadas, cujos efeitos colaterais negativos chegam a alimentar dúvidas sobre a eficácia do modelo posto em prática.

No entanto, não há alternativa viável, e isso explica por que o governo Lula deu continuidade à política econômica que estava em andamento.

Com um processo de ajustes estruturais por concluir, o regime de metas tem se mostrado o mais adequado para que o Brasil consiga anular paulatinamente a herança deixada pelo período de inflação crônica e aguda. Essas metas dão transparência aos objetivos de curto e médio prazos da política monetária, o que é importante para balizar investimentos e rotinas dos agentes econômicos.

Discute-se se as metas estabelecidas pelo governo para 2005 e 2006 não foram demasiadamente ousadas, e em conseqüência o crescimento econômico estaria sendo sacrificado.

De fato, se o Produto Interno Bruto (PIB) vier a se comportar em 2005 conforme as mais recentes estimativas, que apontam para um crescimento abaixo de 3%, o desempenho da economia brasileira será modesto em relação à conjuntura mundial.

Mas abandonar as metas agora seria jogar fora todo o esforço feito até aqui, e com sucesso. E ignorar o ponto central da meta pode significar também uma má sinalização para os agentes econômicos, que passariam a se balizar apenas pelo teto delas.

De qualquer modo, alguma flexibilidade é necessária na execução da política monetária, pois situações não previstas podem ocorrer. Para isso as metas têm intervalos de acomodação, para mais ou para menos.

O melhor objetivo é a inflação a mais baixa possível