Título: Cúpula do PT espera demissão de Delúbio e Sílvio
Autor: Soraya Aggege e Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 16/06/2005, O País, p. 9

Senadores do partido também já pedem a saída do tesoureiro e do secretário-geral envolvidos nas denúncias

SÃO PAULO. A cúpula do PT espera que o tesoureiro do partido, Delúbio Soares, e o secretário-geral, Sílvio Pereira, entreguem seus cargos amanhã, durante uma reunião do Campo Majoritário, corrente que concentra o poder no partido há mais de uma década. O encontro será em São Paulo e deve ter a participação do chefe da Casa Civil, José Dirceu, do presidente nacional, José Genoino, e de senadores que defenderam ontem a saída dos dois dirigentes como forma de atenuar a crise política. A direção trabalha para convencer os dois a saírem.

- Se existem dúvidas, os homens de bem se afastam, provam que nada devem e voltam mais fortes - defendeu ontem o senador Delcídio Amaral, líder do PT, antes de ser eleito presidente da CPI.

Os dois possíveis substitutos já estão praticamente decididos. Para o lugar de Sílvio Pereira é cotado o secretário de Relações Internacionais do partido, o gaúcho Paulo Ferreira. Para a vaga de Delúbio, já está fechada a escolha do ex-tesoureiro da CUT João Vaccari Neto, que atualmente é secretário de Relações Internacionais da central sindical, além de dirigente do Sindicato dos Bancários.

Vaccari já foi tesoureiro do sindicato e presidente do Dieese (88-90). Ele tem fortes laços com o ministro da Comunicação de Governo, Luiz Gushiken, que já presidiu o Sindicato dos Bancários. Ferreira e Vaccari pertencem ao Campo Majoritário e negam que tenham sido sondados. Ambos têm defendido a permanência de Sílvio e de Delúbio. O mandato dos dois só termina em dezembro.

A reunião do Campo Majoritário acontece na véspera da reunião do diretório nacional, sábado, em São Paulo, e depois da reunião da corrente de centro Movimento PT, que deve acontecer hoje. Há um consenso entre integrantes do Campo Majoritário, do Movimento PT e da esquerda de que, caso a corrente majoritária não consiga convencê-los a renunciar, o pedido de afastamento seja aprovado pelo diretório nacional.

A maioria dos 14 senadores do PT e deputados ligados ao Campo Majoritário defenderam publicamente a saída de Delúbio e Sílvio Pereira ontem. Hoje à tarde, eles devem se reunir com o presidente Lula e reafirmar sua posição.

Caso o Campo Majoritário não "corte da própria carne", integrantes do diretório apresentarão resoluções para que os dois sejam afastados.

- Nós, minoritários no partido, centro e esquerda, temos sido muito responsáveis, pois queremos fazer a defesa do partido. Agora está na hora de darmos uma resposta a essa crise - disse o segundo-vice-presidente do PT, Romênio Pereira, do Movimento PT.

Até ontem, Delúbio e Sílvio Pereira não estariam convencidos da saída. Em conversas, os dois manifestaram a vontade de permanecer nos cargos.

Genoino desafia: 'Quero que alguém apareça'

Presidente do PT usa carro blindado ao sair da sede do partido

SÃO PAULO. O presidente do PT, José Genoino, disse ontem que quer ver surgir "um motorista, uma secretária, uma fita ou fotografia que comprovem que o PT usou malas de dinheiro para comprar aliados". Em entrevista à Rádio CBN, Genoino voltou a negar qualquer possibilidade de envolvimento do PT em negociatas e tentou desqualificar as acusações que atingem o partido.

- Nunca vi (mala de dinheiro) e quero que alguém apareça, seja um motorista, uma secretaria ou qualquer pessoa, com uma fita ou uma foto, em que esteja andando perto de mala de dinheiro. Isso é uma indignidade. Este cara (deputado Roberto Jefferson) está dizendo: "Eu não tenho provas, mas ataco".

Sobre a situação do chefe da Casa Civil, José Dirceu, Genoino disse que Jefferson não tem autoridade moral para querer tirá-lo do cargo.

- O PT tem a maior confiança e o maior respeito pelo ministro - afirmou o petista.

Genoino disse ainda que as acusações de Fernanda Karina Somaggio, ex-secretária do publicitário Marcos Valério, não atingem o partido:

- Em nenhum momento ela cita o PT. Ela cita telefonemas para alguns dirigentes do PT. Em nenhum momento da entrevista ela diz que esse dinheiro era para o PT. Os dirigentes do PT podem ter relação com qualquer empresa. Pode ter telefonema, pode ter contato, isso não é crime em lugar algum do mundo e nem aqui no Brasil. Portanto, estamos tranqüilos.

Genoino evita jornalistas em dia tenso na sede do PT

O dia foi tenso na sede do PT. Após a entrevista à CBN, Genoino se recusou a falar com jornalistas. Para evitar os telefonemas, deixou o celular com uma secretária. No fim do dia, deixou a sede em um carro blindado, de vidros negros. Ao ser abordado por repórteres, disse que não daria entrevistas e autorizou o motorista a seguir. Seguranças do partido deram empurrões nos profissionais.

Genoino parou o carro ainda na rua da sede do PT e foi aplaudido por 20 petistas ligados ao Sindicato dos Bancários. Assim que seguiu, outro grupo de bancários fez uma rápida passeata, aos gritos de "mensalão, olha o mensalão". Cerca de 60 pessoas participaram do protesto.

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