Título: AUSÊNCIA DE LÍDERES IRRITA PETISTAS
Autor: Isabel Braga e Maria Lima
Fonte: O Globo, 16/06/2005, O País, p. 11

Deputados dizem que faltou reação enérgica às acusações de Jefferson

BRASÍLIA. A ausência dos líderes do PT, Paulo Rocha (PA), e do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), no depoimento do deputado Roberto Jefferson deixou indignados deputados do partido. Para os petistas, faltou a reação enérgica dos líderes às acusações feitas por Jefferson de pagamento de R$4 milhões para campanhas do PTB. Eles também criticaram a falta de informações sobre a real participação do PT nos fatos denunciados. Perplexos com a ausência do líder, muitos petistas telefonaram cobrando uma fala de Rocha.

- Só eu liguei duas vezes! Ele disse que a estratégia de Jefferson era desqualificar o PT e que não iria bater boca com ele. E que os petistas da comissão estavam preparados. Mas nem mesmo quando a oposição alardeava a saída do chefe da Casa Civil, José Dirceu, podíamos responder porque não sabíamos se era ou não verdade - criticou a deputada Iara Bernardi (SP).

- A esperteza de Jefferson cresce na medida da nossa omissão. Sabe o que separa o herói do bandido? Quase nada, só o ar - acrescentou o deputado Walter Pinheiro (BA).

- Diante das graves denúncias, é preciso transparência, não importa a qualidade do denunciante. O que não pode é um pedaço do partido fazer as coisas e o resto não saber - disse o deputado Paulo Rubem (PE).

Entre os deputados de alas moderadas, a ausência também foi criticada. Preocupado, o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) ligou para Rocha e recebeu a missão de falar em nome do líder. Ele quer uma reação mais enérgica do PT e a instalação imediata da CPI do Mensalão. Isso evitará o que aconteceu no depoimento: que Jefferson passe de réu a denunciante e escape das acusações.

- Investigação séria só pode ser feita se separarmos os Correios do mensalão. A mistura confunde a investigação, transforma investigado em denunciante e cria embate político, que vai na contramão da busca dos fatos - disse Cardozo.

Chinaglia: não era o governo que estava em julgamento

Chinaglia justificou sua ausência, dizendo que não era o governo que estava em julgamento no Conselho de Ética:

- Não posso estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Coube a mim ficar no gabinete, recebendo e repassando informações sobre o depoimento.

Rocha criticou a condução dos trabalhos pelo petebista Ricardo Izar (SP), que não limitou o tempo de Jefferson.

- Houve favorecimento. O tempo que ele conseguiu deu margem para falar muito do PT. Foi um desgaste grande, o partido vai ter que responder, mas nossa presença lá era dispensável. Tínhamos organizado a ação com nossos deputados do conselho - justificou Rocha.

O deputado admite que há insatisfações e que terá que sentar com os petistas para traçar estratégias. Ele afirma que a direção do PT está fazendo isso e que tudo será discutido na reunião do diretório nacional.

A ausência dos líderes dividiu opiniões entre os aliados. O líder do PSB, Renato Casagrande (ES), achou acertada:

- Jefferson virou um herói bandido. Ir para o debate com ele era já entrar perdendo.

Para o líder do PL na Câmara, Sandro Mabel (GO), ficou a sensação de abandono:

- É medo, não? Talvez tenham algo a esconder. Nós, do PL, não temos.

Hoje, 13 deputados da ala de esquerda entregam a Lula uma carta em que pedem rigor nas investigações. Sem citar nomes, eles também vão propor a demissão de autoridades do primeiro escalão, numa referência indireta ao ministro Romero Jucá (Previdência) e ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles (Banco Central), além do afastamento do tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e do secretário-geral, Silvio Pereira.