Título: Publicidade estatal nas revistas do cunhado
Autor: Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 29/06/2005, O País, p. 13

Anúncios de Petrobras, BB e CEF em publicações do irmão da mulher de Gushiken quase dobram no governo Lula SÃO PAULO e BRASÍLIA. Cunhado do ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo), Luís Leonel, dono da Ponto de Vista Editorial, admitiu ontem que a veiculação de publicidade de estatais nas revistas que edita quase dobrou nos dois primeiros anos do governo Lula. Ao negar que tenha sido favorecido pelo governo, o irmão da mulher do ministro afirmou, em nota, que a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil já faziam anúncios em suas revistas antes de 2002, mas admitiu que essa participação cresceu: ¿Nossas revistas já tinham a Caixa e o Banco do Brasil como anunciantes antes do governo Lula, sendo que em 2002 a publicidade das estatais representou 25,99% da publicidade total da editora. No ano de 2003 a participação subiu para 47,36% e, no ano de 2004, ficou em 45,45%¿, diz a nota. Petrobras gastou R$1 milhão com revistas A Petrobras gastou R$1 milhão no governo Lula com a publicação de anúncios em três revistas de Leonel. A empresa disse que as revistas ¿Investidor individual¿, ¿Investidor institucional¿ e ¿Energia & Mercados¿ são utilizadas nas campanhas de relação com investidores por falarem diretamente com esse público e que já anunciava nos governos anteriores. Os anúncios da empresa na ¿Investidor individual¿ somaram R$607.200 em 2003, 2004 e 2005. À ¿Investidor institucional¿ foram pagos R$105 mil em 2005 e a Energia & Mercados recebeu R$293.156. Leonel confirmou ser cunhado de Gushiken e também que a irmã do ministro, Renata, trabalha em sua editora, no setor administrativo. Ele não quis dar detalhes de operações, como o faturamento. Tampouco informou o preço pago pelos anunciantes. O caso foi divulgado na coluna de Mônica Bergamo, da ¿Folha de S.Paulo¿, ontem. ¿Publicações consolidadas em nichos específicos¿ Segundo Leonel, a Ponto de Vista edita quatro revistas e apenas a ¿Investidor individual¿ circula em bancas, e a tiragem, que não é controlada pelo IVC (Instituto de Verificação de Circulação), é de 40 mil exemplares. A revista é editada há dez anos. Já o portal de notícias O Debate (www.odebate.com.br), informou, no dia 11 de maio, que a revista ¿Gestão Médica¿ acabava de ser lançada, contrariando a informação da editora de que a publicação tem quatro anos. Na última edição da ¿Investidor individual¿, de número 37 (junho de 2005), a contracapa é publicidade do Banco do Brasil, a segunda página é da CEF e duas páginas internas são de anúncios da Petrobras. As tiragens das outras três publicações da editora variam de dez mil a 12 mil exemplares, e têm sua distribuição dirigida, de acordo com Leonel. Segundo ele, as revistas ¿são publicações consolidadas, com forte penetração em nichos específicos de mercado e existência anterior ao governo Lula¿. A participação das estatais nas publicações, diz Leonel, deve-se à ¿importância da revista `Investidor Institucional¿ no nicho de mercado de finanças profissionais¿ e ao ¿setor em que atua `Energia & Mercados¿ tem forte presença de empresas estatais, tanto na área de petróleo quanto de eletricidade.¿ A nota de Leonel afirma ainda que seus contratos são com as agências e não com o governo: ¿As negociações de nossa editora com as estatais ocorrem muito antes do governo Lula e sempre foram feitas dentro da maior lisura, seguindo os trâmites legais, com propostas sendo enviadas às agências de publicidade responsáveis e sem qualquer envolvimento do ministro Gushiken¿. Colaborou Regina Alvarez