Título: Ex-secretária diz que havia esquema especial para telefonemas a Dirceu
Autor: Isabel Braga e Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 29/06/2005, O País, p. 4

Karina afirma que ligava para o ministro, que retornava para o celular de Valério BRASÍLIA. Durante os 32 minutos iniciais em que respondeu a perguntas do relator do Conselho de Ética, Jairo Carneiro (PFL-BA), a ex-secretária Fernanda Karina Somaggio voltou a confirmar que o publicitário Marcos Valério de Souza costumava conversar com o então ministro e hoje deputado José Dirceu (PT-SP). Segundo a ex-secretária, havia um esquema especial para que os dois conversassem por telefone, sem levantar suspeitas. Primeiro ela ligava para São Paulo, e só depois o ex-ministro retornava, ligando para o celular do publicitário. Ela afirmou ainda que, no caso do tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e do secretário-geral do partido, Sílvio Pereira, os encontros e os telefonemas eram freqüentes. Para contactar Dirceu, disse que ligava para São Paulo e que uma vez ligou para Brasília. Sempre falava com as secretárias do ex-ministro e este retornava as ligações. Karina contou que certa vez, depois de ter feito a ligação para as secretárias de Dirceu, viu que alguém ligou para o celular de Marcos Valério. ¿ Ele ligou e o senhor Marcos falou: olá ministro, como está? ¿ disse Karina. Motorista para Delúbio em BH O deputado Orlando Fantazzini (PT-SP) quis saber como ela sabia se tratar de Dirceu e a ex-secretária respondeu que deduziu porque havia feito a ligação para a secretária do então ministro. Fantazzini também perguntou se a ex-secretária conhecia Delúbio pessoalmente e ela respondeu que apenas falava com ele por telefone e o conhecia pelos comentários que Marcos Valério fazia. ¿ Então tudo o que a senhora diz sobre ele é no campo da impressão? ¿ perguntou Fantazzini, recebendo a resposta positiva da ex-secretária. Um dos dados da agenda de Karina diz que o motorista da empresa SMP&B, Neilton, ficou um fim de semana inteiro à disposição de Delúbio em Belo Horizonte. Segundo a ex-secretária, Marcos Valério sempre dizia a amigos que iam pedir favores a ele na empresa que conhecia a maioria dos deputados e muitos senadores. Ela não disse os nomes de nenhum deles e negou ter ouvido ou recebido telefonemas do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Segundo ela, todos os funcionários da SMP&B sabem que a empresa tem algum tipo de negócio ilícito. Fernanda Karina disse ainda que não presenciou qualquer reunião no escritório da empresa e que sempre agendou os encontros de Valério com a cúpula petista em hotéis. Em São Paulo, no Sofitel, e em Brasília, no Blue Tree Park e no Gran Bittar. Ligações para João Paulo A ex-secretária disse que além de Delúbio e Sílvio Pereira, Marcos Valério também ligava para o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) e para o deputado João Magno (PT-MG), que era cliente dele. Depois do relator, o advogado de Jefferson, Itapoã Messias, fez 38 perguntas à ex-secretária. À maioria delas, Fernanda Karina respondeu de forma negativa. Com base em reportagens publicadas pela imprensa, Itapoã quis saber até mesmo se havia relação entre o bicheiro Carlos Cachoeira, envolvido em escândalo que provocou a demissão de Waldomiro Diniz da Casa Civil, e Marcos Valério. A ex-secretária disse que não. Para o advogado, o conselho julga a quebra de decoro de Jefferson, mas cada vez fica mais claro que ele não mentiu. Durante o depoimento, os petistas citaram um e-mail apresentado por Fernanda Karina a Marcos Valério e que teria motivado a ação por extorsão movida contra ela pelo ex-chefe. Ela se defendeu afirmando que esse e-mail (datado de 5 de junho de 2004 e assinado por ¿A equipe¿ e que oferece dinheiro a ela para que responda a perguntas sobre o que viu na empresa) apareceu em seu e-mail como algo enviado dela para ela mesma. Ela diz que apenas mostrou a Marcos Valério porque estava assustada.