Título: COMEÇA PROCESSO PARA BEATIFICAR JOÃO PAULO II
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Fonte: O Globo, 29/06/2005, O Mundo/Ciencia e Vida, p. 31

Tribunal é formado em tempo recorde para avaliar caso do Papa falecido em abril, no primeiro passo para canonização

ROMA. Quase três meses após uma multidão pedir sua canonização no funeral na Praça de São Pedro, começou ontem oficialmente o processo de beatificação de João Paulo II. Um tribunal formado por cinco religiosos ¿ entre eles um defensor, um juiz e até mesmo um ¿advogado do diabo¿, com a missão de contestar os argumentos a favor do Papa falecido ¿ prestou juramento numa cerimônia na Basílica de São João de Latrão, em Roma.

Em latim, eles fizeram a promessa de manter seus trabalhos em segredo e de não aceitar presentes que possam corromper o processo.

¿ Rogamos a Deus, de todo o coração, que a causa de beatificação e canonização iniciada esta tarde (ontem) possa rapidamente alcançar sua coroação ¿ disse o cardeal Camillo Ruini, enquanto os presentes entoavam o nome ¿João Paulo¿, seguido de aplausos.

Embora as regras determinem que o processo de beatificação seja iniciado somente cinco anos após a morte, o Papa Bento XVI acelerou o processo. O próprio João Paulo II abrira uma exceção para Madre Teresa de Calcutá, iniciando o processo dois anos após sua morte.

Centenas de cartas e e-mails relatam milagres

Apesar da rapidez com que o caso de João Paulo II foi aberto, funcionários eclesiásticos afirmam que ele seguirá o curso normal, com uma ampla investigação.

¿ Certamente é a mais rápida abertura de um processo de beatificação da História Moderna ¿ disse Giovanni Maria Vian, professor de história religiosa na Universidade La Sapienza.

Para alguém ser beatificado é necessária a comprovação de pelo menos um milagre após a sua morte. Esse é o primeiro passo para a canonização, que requer um segundo milagre.

Durante a cerimônia, o cardeal Ruini afirmou que a fé de João Paulo II, seu sofrimento nos últimos anos e o sangue derramado na tentativa de assassinato contra ele em 1981 eram sinais de santidade. O advogado da causa, monsenhor Slawomir Oder, vai apresentar no tribunal todas as provas coletadas, assim como uma lista de pessoas para testemunhar e documentos escritos por João Paulo II.

Oder, que assim como Karol Wojtyla nasceu na Polônia, diz estar sendo soterrado por cartas e e-mails relatando o que seriam milagres do papa falecido.

¿ Recebemos uma média de 80 a cem por dia... Eles vêm de todo o mundo, mesmo dos que não são fiéis ¿ contou.

A maior parte das mensagens é da América Latina, seguida por Europa, principalmente Itália e Polônia. Entre os casos, está o de uma polonesa que dizia não poder ter filhos e afirma ter engravidado após visitar o túmulo de João Paulo II, no Vaticano. Outro é de um jovem italiano que estava em coma e que despertou após sua família passar dias rezando para o papa recém-falecido.

Uma vez que todo o material tenha sido reunido, ele será encaminhado à Congregação para as Causas dos Santos, que apontará uma comissão para rever o caso e fazer um relatório final a ser enviado ao Papa Bento XVI.

Karol Wojtyla morreu em 2 de abril, aos 84 anos, após quase 27 de pontificado. Seus últimos anos foram marcados pela deterioração de sua saúde.

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