Título: TRÁFICO DESAFIA A POLÍCIA NA FAVELA DA ROCINHA
Autor: Ana Cláudia Costa
Fonte: O Globo, 29/06/2005, Rio, p. 17

Bandidos fazem ameaças e debocham. Secretário diz que as unidades de elite continuarão atuando no morro Um dia depois da troca de tiros entre traficantes e policiais, na qual um estudante morreu, a Favela da Rocinha amanheceu com os acessos ocupados por 25 PMs do Batalhão do Leblon e do Grupamento Tático-Móvel (Getam). Apesar do aparato policial, que também se posicionou na mata e na parte alta do morro, traficantes passaram toda a manhã na mata, em cima do Túnel Zuzu Angel, desafiando a polícia. Com um radiotransmissor, policiais conseguiam escutar as ameaças dos bandidos, que sem se intimidarem chegaram a exibir e soltar morteiros. Os traficantes, um deles vestindo uma camisa com a sigla FBI, davam a posição de jornalistas e policiais na parte baixa do morro. ¿ Olha lá eles no Gol Bolinha (carro da PM). Bota a cara aí... Vamos fazer os PMs tombar logo. Manda a Core vir aqui em cima agora buscar os bagulhos deles... ¿ diziam os traficantes.

Rocinha protesta no enterro de estudante Em uma outra conversa interceptada pelo rádio que estava com os policiais militares, os traficantes detalhavam a movimentação da imprensa na comunidade: ¿ Vai tombar logo. Olha só o repórter tirando foto aí da nossa base no Valão (rua da favela onde funciona uma ¿boca-de-fumo¿). Isso já é abuso. Vamos tirar o prateado (arma cromada) para fora e mostrar para eles ¿ dizia um traficante pelo rádio. Na manhã de ontem foi enterrado no Cemitério São João Batista o corpo do estudante Lucas Batista França, de 15 anos. O corpo foi velado numa capela dentro da própria comunidade. Durante o sepultamento, os cerca de 70 moradores que foram ao local em dois ônibus cedidos por uma empresa vizinha da favela pediram trégua à polícia. Em uma faixa eles diziam: ¿Rocinha é odiada¿. Após o enterro os dois ônibus voltaram para a Rocinha escoltados por dois carros da PM. Na chegada à comunidade eles ainda desfilaram pela rua principal com a faixa como forma de protesto. O pai do rapaz, Fernando da Silva Gonçalves de França, acusou a polícia de ter atirado em seu filho. ¿ Nasci na Rocinha e fui criado lá. Tenho certeza que foi a polícia quem atirou no meu filho. O policial estava na laje do alto quando atirou. Não foram os traficantes que atiraram nele não ¿ disse. O secretário de Segurança, Marcelo Itagiba, através de uma nota oficial, afirmou que a morte do estudante foi lamentável. Segundo o secretário, as circunstâncias da morte serão esclarecidas e as informações iniciais, fornecidas pelo delegado Marcos Reimão, que comandou a operação, são de que os tiros partiram dos bandidos. Marcelo Itagiba disse, ainda, que as operações da Core e do Bope, que são as unidades de elite das polícias Civil e Militar, continuarão sendo feitas na Favela da Rocinha para garantir a segurança dos moradores da comunidade e dos bairros vizinhos.