Título: SUZANE RICHTHOFEN É LIBERTADA EM SP
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Fonte: O Globo, 30/06/2005, O País, p. 13

Jovem que matou os pais em 2002 obtém hábeas-corpus e aguardará julgamento em liberdade

RIO CLARO (SP). Sob protesto de um grupo de 100 moradores de Rio Claro, que gritavam "assassina, matou os pais tem de pagar", a ex-estudante Suzane Louise von Richthofen, de 21 anos, foi libertada na tarde de ontem do Centro de Ressocialização Feminina (CRF). Por três votos a dois, a 6 ª Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) concedeu hábeas-corpus para Suzane, que aguardará o julgamento em liberdade. Ré confessa, ela é acusada de ter planejado o assassinato dos pais, e de ter ajudado o namorado, Daniel Cravinhos, e o irmão dele, Cristian, a executá-los.

- Está vendo, eu sabia que Deus ia me ouvir - disse Suzane à direção do CRF tão logo soube da concessão do hábeas-corpus anteontem.

Suzane saiu do CRF no banco de trás de um carro da PM, escoltada por dois policiais. Ela deve ficar na casa de parentes. Antes de deixar o CRF, Suzane passou pelo salão de beleza, onde fez escova e foi maquiada pelas colegas. Dez minutos antes de sair, foi apresentada aos jornalistas, ainda dentro da unidade, pela diretora Irani Torres.

- Não tenho nada a declarar. Depois marco uma coletiva - disse.

Em 2002, ano do crime, Suzane, então com 19 anos, ficou por duas semanas presa em São Paulo, no 89º Distrito (Portal do Morumbi). Na ocasião, disse às colegas de cela: - Estou arrependida. Já aconteceu e não tem mais volta. Agora sonho diariamente com os meus pais.

Há 10 meses em Rio Claro, Suzane foi transferida da penitenciária feminina após ser ameaçada de morte durante uma rebelião. Segundo a diretora do CRF, as presas também tentaram extorquir a ex-estudante em São Paulo. Em pelo menos duas transferências de presas para o CRF, a diretora Irani recebeu telefonemas anônimos. Segundo ela, as pessoas diziam: "Esta presa nova está indo para Rio Claro só para matar a Suzane".

Um ano depois de ser presa, Suzane pediu ao irmão Andreas para retirar seu urso de pelúcia do quarto e escondê-lo. Dentro do bicho estava escondida uma pistola 635 e quatro caixas com 200 balas, segundo o promotor público Roberto Tardelli, que recebeu o urso do tio de Suzane, Miguel Abdala, há um ano. De acordo com a diretora do CRF, Suzane nunca recebeu a visita do irmão Andreas.

- Isso não muda a decisão do Superior Tribunal de Justiça. Porém, mostra que Suzane não poderia estar livre da forma que ficará, como se não tivesse cometido algo grave. Se matar os pais não é grave, o que é? - indagou Tardelli.

O promotor admitiu que esta não é a arma do crime, mas disse, em referência à decisão do STJ, que "há risco de mantê-la solta e que a Justiça errou".

- A decisão relativa à soltura de Suzane foi acertada. Não há fundamento para a prisão preventiva. Ela é primária, tem bons antecedentes, residência fixa, além disso não há qualquer indício de que, uma vez solta, colocará em risco a ordem pública - disse a advogada Andréa Guedes Miquelin.

CRIME BRUTAL CHOCOU O PAÍS

No dia 31 de outubro de 2002, o engenheiro Manfred Von Richtofen e sua mulher, Marisia, foram brutalmente mortos no quarto em que dormiam, em casa, num bairro de classe alta em São Paulo. O caso chocou o país, sobretudo depois que a filha do casal, Suzane, então com 19 anos, estudante de direito, confessou ter planejado o crime e ajudado o namorado, Daniel Cravinhos, e o irmão dele, Cristian, a executá-lo.

A frieza com que Suzane contou, oito dias depois, o que ocorrera na noite do crime surpreendeu até a polícia. Ela disse que entrou sozinha na casa e, depois de confirmar que os pais dormiam, abriu a porta para os assassinos. O casal foi morto a golpes de barra de ferro e estrangulado. Depois do crime, ela e o namorado foram a um motel para forjar um álibi. Três dias depois do assassinato, ela comemorou seu aniversário com um churrasco.

Legenda da foto: SUZANE, AO LADO de policial, deixa a prisão no interior de São Paulo