Título: Para Tortura Nunca Mais, fotos seriam do jornalista
Autor: Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 22/10/2004, O país, p. 5

A vice-presidente do grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro, Cecília Coimbra, reagiu com espanto ao tomar conhecimento da nota divulgada pelo secretário nacional de Direitos Humanos, Nilmário Miranda, negando que as fotos sejam de Vladimir Herzog.

¿ Eu acho que é o Herzog e pessoas que o conheceram intimamente confirmam que é ele ¿ disse ela.

Para Cecília, a nota do secretário sobre a investigação que a Abin fez sobre as imagens é mais um indicador de que os arquivos sobre o período da repressão não foram destruídos.

¿ Todos os dados que estão sendo veiculados confirmam mais uma vez que os arquivos existem, que não foram queimados. Se a Abin foi capaz de dizer que não é o Herzog, que é outro, então há documentos que provam a ação da repressão no período. Em 1974, certamente se tratava de um opositor do regime ¿ afirma Cecília.

Segundo a dirigente do Tortura Nunca Mais, mesmo admitindo a hipótese de que as imagens não sejam do jornalista, o governo deveria imediatamente mandar investigar.

¿ Um ser humano não deve ser tratado dessa maneira. Ele pode estar ainda vivo ou, se morreu, sua família merece saber o que houve ¿ afirmou.

Ontem o Tortura Nunca Mais lançou uma campanha para exigir a abertura dos arquivos da ditadura. ¿Consideramos inadmissível e inaceitável que, passados 40 anos do golpe militar, continue sendo negado aos cidadãos de nosso pais o direito de conhecer e apurar todos os crimes praticados em nome da `segurança nacional¿¿, diz nota sobre a campanha.

¿Sou favorável a ir abrindo, mas tem que ter cautela¿

O presidente da Câmara, João Paulo Cunha, também defendeu a abertura dos arquivos da ditadura militar, mas ressalvou que esse processo deve ser feito com cautela. Ele afirmou que a abertura dos arquivos não põe em risco a democracia, e disse não acreditar que os militares possam criar problemas com a abertura dos arquivos.

¿ Não acho que tenha risco, mas tem que ter cautela. Sou favorável a ir abrindo, mas tem que ser uma coisa cautelosa, com o envolvimento de toda a sociedade, para que a gente não tenha nenhum sobressalto.

O presidente da Câmara disse que os documentos já vêm sendo publicados ao longo do tempo e que é bom que o passado venha à tona para que a sociedade possa fazer um julgamento melhor de sua História.

¿ A cada ano que passa e a cada passo que o Brasil dá na consolidação da democracia pode, efetivamente, fazer com que seu passado venha à tona e que a sociedade possa fazer um julgamento melhor.