Título: Exportações levam contas externas a recorde
Autor: Enio Vieira
Fonte: O Globo, 22/10/2004, Economia, p. 29

As exportações garantiram este ano um desempenho recorde das contas externas brasileiras e ainda compensaram o baixo fluxo de empréstimos e investimentos estrangeiros. Em setembro, as transações correntes (soma de comércio exterior, viagens, pagamento de juros e remessas de lucros) registraram superávit de US$ 1,741 bilhão, contra US$ 1,319 bilhão no mesmo mês de 2003. O resultado se deve basicamente ao aumento do superávit comercial, que passou de US$ 2,664 bilhões em setembro de 2003 para US$ 3,171 bilhões em setembro de 2004.

Nos últimos 12 meses, o superávit corrente acumulado está em US$ 9,821 bilhões, o que equivale a 1,8% do Produto Interno Bruto (PIB). No acumulado do ano, as transações correntes registram superávit de US$ 9,603 bilhões, contra US$ 3,790 bilhões em 2003. Esse resultado é o dobro de todo o ano passado, quando o superávit corrente foi de US$ 4,008 bilhões. Segundo o chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Altamir Lopes, os números das transações correntes são os melhores da série histórica iniciada em 1947.

¿ Os números vêm confirmando o bom desempenho das contas externas. O mês de outubro, que tem uma concentração de pagamento de juros e historicamente tem déficits, deve registrar um superávit corrente de US$ 900 milhões ¿ disse o economista do BC.

Empresas renovam só 26% de seus empréstimos no exterior

A situação atual inverteu o quadro do governo Fernando Henrique Cardoso, de 1995 a 2002, quando havia altos déficits correntes, financiados com grande entrada de empréstimos e investimentos. Em setembro, a conta financeira ficou negativa em US$ 1,713 bilhão, frente ao superávit de US$ 2,415 bilhões em igual mês do ano passado. As empresas brasileiras só renovaram 26% de seus empréstimos no exterior em setembro e pagaram o resto. Em setembro de 2003, elas renovaram 144% de seus empréstimos, ou seja, conseguiram renovar todo o empréstimo e ainda captaram mais dinheiro.

¿ O que está havendo é uma queda do endividamento externo, com o setor privado quitando suas dívidas. Isso reduz a vulnerabilidade externa do país a mudanças no mercado internacional ¿ afirmou o chefe do Departamento Econômico do BC.

A dívida externa caiu de US$ 214,9 bilhões, em dezembro de 2003, para US$ 202,9 bilhões em julho passado. Com alto superávit em transações correntes, a economia brasileira não tem necessidade de se endividar e de investimentos estrangeiros diretos, que chegaram a ser a principal fonte de financiamento externo nos últimos anos. Os investimentos diretos somaram US$ 646 milhões em setembro, contra US$ 739 bilhões no mesmo mês de 2003. No acumulado do ano, esses recursos atingiram US$ 12,381 bilhões, quase o dobro dos US$ 6,647 bilhões de janeiro a setembro de 2003.

¿ Se for confirmada a estimativa de entrada de US$ 1,6 bilhão de investimentos diretos em outubro, serão necessários US$ 1,5 bilhão em novembro e dezembro para atingir os US$ 17 bilhões previstos para este ano ¿ disse Altamir Lopes.

Saldo de viagens internacionais cresce 250%

Tradicionalmente deficitárias, as viagens internacionais passaram de um superávit de US$ 99 milhões de janeiro a setembro de 2003 para um saldo de US$ 347 milhões no acumulado deste ano ¿ volume 250% maior. Mas o crescimento da economia deve aumentar a renda e alterar esse quadro. Em setembro de 2004, já houve um pequeno déficit de US$ 8 milhões. O número parcial de outubro registra déficit de US$ 21 milhões. Uma das contribuições positivas para as transações correntes está na remessa de brasileiros que moram no exterior, como os dekasseguis no Japão e moradores dos EUA.

¿ Quando essas economias (japonesa, americana) se recuperam, os fluxos aumentam dos brasileiros que moram nestes países. O volume de recursos passou de US$ 2,106 bilhões de janeiro a setembro de 2003 para US$ 2,381 bilhões neste ano.