Título: Genoino não consegue explicar aval de Valério
Autor: Adauri Antunes Barbosa
Fonte: O Globo, 09/07/2005, O País, p. 5

Em nota, partido admite que publicitário foi avalista em mais dois empréstimos, mas nega irregularidades

SÃO PAULO. Esforçando-se para explicar, sem sucesso, o aval do publicitário Marcos Valério a outro empréstimo do PT de R$3 milhões junto ao Banco Rural, o presidente nacional do partido, José Genoino, voltou a negar ontem irregularidades nas operações financeiras feitas pelo partido. Em nota divulgada pela Secretaria de Finanças, o PT confirmou que Valério foi avalista em dois empréstimos, nos bancos Rural e BMG.

- A campanha eleitoral foi muito dura para o PT. Saímos desse processo com uma dívida muito grande. Nesse processo de crescimento temos que examinar melhor as questões, porque o PT não praticou irregularidades, não cometeu crime, não praticou ato de corrupção, não fez nada que envolvesse compra e apoio de votos no Congresso Nacional - disse Genoino.

Conforme a nota, em 17 de fevereiro de 2003 o PT pediu empréstimo de R$2,4 milhões ao BMG, no qual foram avalistas Genoino, o então secretário de finanças e Planejamento do PT, Delúbio Soares e Marcos Valério. No dia do último aditamento do contrato, em 21 de fevereiro deste ano, Marcos Valério deixou de ser o avalista. "O último aditivo de confissão de dívida, no valor de R$2.901.168,00, vencerá dia 22/08/05. Nesta data, o PT deverá efetuar o pagamento do empréstimo junto ao BMG e também o pagamento do empréstimo do sr. Marcos Valério, no valor de R$351.508,20, acrescido de juros e correção monetária", diz a nota.

- Esses empréstimos estão na nossa prestação de contas e foram avaliados e renovados periodicamente. Ter dívida com banco não é irregularidade, não é crime. Foi falta de condições de pagar, não tem nada de imoral. O PT vai criar as condições para resolver - explicou.

Genoino sabia que Valério tinha assinado contratos

No Banco Rural, segundo a nota, o partido pediu o segundo empréstimo de R$3 milhões, em 14 de maio de 2003, com aval de Valério. "Como o banco exigiu mais um avalista, o sr. Marcos Valério concordou em nos dar essa garantia", diz o texto. Como no contrato anterior, Valério, de acordo com a nota, também deixou de ser avalista. No lugar dele, passou a assinar Genoino. "Os atuais avalistas, portanto, são o presidente e o secretário licenciado de Finanças e Planejamento do PT", afirma a nota, informando que até o momento não houve amortização da dívida, até o dia 13 de junho passado avaliada em R$6,04 milhões. Os dois empréstimos juntos totalizam uma dívida atualizada de quase R$9 milhões.

- Afirmei que tinha (outros contratos). O que eu não sabia é que o Valério tinha sido avalista dos dois contratos. Mas que tinha assinado esses contratos, sim. Eu disse que assinei outros contratos. A informação que não tinha é se Valério era avalista. Na última reunião da executiva deixamos isso claro - disse Genoino, que se recusou a mostrar os contratos de empréstimos do partido, embora venha prometendo fazer isso desde a semana passada.

Decisão sobre a cúpula fica para hoje

Prisão de assessor do irmão do presidente do PT interfere nas discussões

SÃO PAULO. O Campo Majoritário, principal corrente política do PT, tentou substituir ontem o presidente do partido, José Genoino, pelo secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, que se negou a aceitar o cargo, segundo dirigentes do partido. A situação de Genoino foi discutida pelos integrantes do Campo durante todo o dia de ontem, em São Paulo, mas até as 21h30m não havia solução, que deve ser dada hoje pela reunião do diretório nacional. O cargo de tesoureiro, que era de Delúbio Soares, deve ser ocupado por Ricardo Berzoini, ministro do Trabalho.

A secretaria-geral, que era de Sílvio Pereira, estava sendo cogitada para Valter Pomar, da corrente Articulação de Esquerda. O secretário de Comunicação, Marcelo Sereno, também envolvido nas acusações e que se recusou a deixar o cargo na última reunião da executiva nacional, não foi à reunião de seu grupo ontem. Seu afastamento pelo diretório nacional é dado como certo, segundo membros do Campo Majoritário.

- Ontem à noite, depois da notícia sobre a mala de dinheiro do petista ligado ao irmão de Genoino (deputado estadual do Ceará José Nobre Guimarães), as pessoas entraram em desespero. Tudo o que tinha sido acertado, de que Genoino ficaria no cargo, foi desacertado. Não sabemos de mais nada - relatou um dirigente petista.

Genoino, em entrevista ontem, reafirmou que quer ficar no cargo, mas sua permanência será decidida reunião de hoje do diretório nacional. Ontem, na reunião do Campo Majoritário, da qual faz parte o presidente Lula, o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu defendeu a continuidade de Genoino.

Mas há os que defendem e dizem estar em dúvida:

- Meu coração está com ele. Minha cabeça está em dúvida - disse o assessor especial da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia.

"A campanha eleitoral foi muito dura para o PT. Saímos desse processo com uma dívida muito grande"

"Ter dívida com banco não é uma irregularidade, não é crime. Foi falta de condições de pagar"

JOSÉ GENOINO, Presidente do PT

Legenda da foto: GENOINO: "EU disse que assinei outros contratos. A informação que não tinha é que Valério era avalista"