Título: FIM DE REGIME DE AÇÚCAR NA UE TRAZ INVESTIMENTOS EUROPEUS PARA BRASIL
Autor: Deborah Berlinck
Fonte: O Globo, 11/07/2005, Economia, p. 19

Gigantes de França e Alemanha planejam reforçar sua presença no país

PARIS. Para se adaptar à redução dos subsídios europeus ao açúcar, pesos pesados da agroindústria francesa e alemã aumentam suas apostas no Brasil. A Tereos, da França, que chegou ao país em 2000, agora reforça a aposta no promissor mercado de etanol. E as alemãs Sudzucker e Nordzucker pretendem investir na produção do açúcar brasileiro.

Desde o mês passado, a União Européia (UE) alterou seu regime do açúcar, depois da derrota que sofreu na Organização Mundial de Comércio (OMC), em painel aberto, entre outros países, pelo Brasil. Após 40 anos de subsídios, período no qual o bloco chegou a ser o segundo maior exportador mundial de açúcar, atrás apenas do Brasil, a mudança de regime levará a um corte de preços e a uma redução das exportações a partir de 2006.

Por conta disso, alguns grupos europeus estão buscando uma nova posição no mercado e o Brasil desponta como peça central nesta estratégia. É o caso da gigante agroindustrial Tereos. Cinco anos depois do primeiro investimento, de US$150 milhões, o grupo francês é hoje um dos principais produtores de açúcar no Brasil.

¿ O novo regime do açúcar europeu significa que, a partir de 2007, a Europa vai praticamente parar de exportar. Vai haver uma diminuição de 30% a 40% da produção européia ¿ disse Philippe Duval, presidente da Tereos, ao GLOBO.

Duval é um dos empresários franceses que participará de um encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Paris, na quarta-feira. A Tereos opera no Brasil com duas empresas: FBA, na qual detém 47,5% do capital, e Guarani (100% do controle). Suas seis usinas vão processar 12 milhões de toneladas de cana-de-açúcar em 2005, um salto em relação aos 4 milhões de toneladas em 2000.

Francês critica juros e teme `um pouco¿ crise política

O grupo tem planos para mudar o perfil, e o Brasil também é chave nesta mudança: vai investir pesado em etanol, de olho não só no mercado brasileiro, que cresce com a venda de carros bicombustível, mas também no aumento no consumo de álcool na Europa, como energia alternativa.

Dois outros produtores de açúcar europeus ¿ ambos alemães ¿ têm planos de investimento no Brasil: a Sudzucker, que é o maior produtora de açúcar da UE, e a Nordzucker.

O interesse pelo Brasil não é à toa: o país aumentou suas exportações de 5,5 milhões de toneladas em 1996 para 15,7 milhões de toneladas em 2004.

¿ Sendo o Brasil o grande produtor mundial, é no Brasil que nós queremos nos desenvolver ¿ disse Duval.

O presidente da Tereos elogiou a equipe econômica do governo Lula, mas queixou-se da taxa de juros:

¿ É muito elevado. É o único ponto fraco.

A crise política no Brasil preocupa? O empresário responde:

¿ Um pouco. Esperamos que isso não vá derrapar. Problemas de corrupção são, evidentemente, lamentáveis.