Título: Ex-assessores de ministros na lista de Valério
Autor: Rodrigo Rangel
Fonte: O Globo, 20/07/2005, O País, p. 8

Presidente do diretório do PT em Brasília afirma que fez saques no Banco Rural por orientação de Delúbio

BRASÍLIA. Um dos sacadores da lista apresentada pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza ao procurador-geral da República, Antonio Fernando Barros de Souza, é o antropólogo Roberto Costa Pinho, que foi demitido ano passado do Ministério da Cultura sob suspeita de corrupção. Outro nome identificado na lista de sacadores é o de José Luiz Alves, secretário de Governo da Prefeitura de Uberaba (MG), comandada pelo ex-ministro dos Transportes Anderson Adauto (PL). Alves foi chefe de gabinete de Adauto no período em que ele ocupou o ministério.

Amigo e compadre do ministro Gilberto Gil, o antropólogo Roberto Costa Pinho era secretário de Desenvolvimento de Programas e Projetos Culturais do ministério. O nome dele, um dos 11 da lista de Valério, aparece pelo menos dez vezes na lista de visitantes da agência do Banco Rural de Brasília. Os saques feitos por ele totalizariam R$1,050 milhão.

A demissão de Pinho foi motivada por denúncias de irregularidades no principal projeto da gestão de Gil, que previa a construção de bases culturais na periferia das grandes cidades brasileiras. Foram descobertas irregularidades na contratação de empresas de consultoria e na escolha do instituto que administraria a verba de R$21,5 milhões que a Petrobras destinaria ao projeto. O Instituto Brasil Cultural (Ibrac), escolhido sem licitação, era formado por um grupo de amigos de Pinho.

O nome de Pinho também aparece na relação dos sacadores que desde ontem está em poder da CPI dos Correios. Pinho trabalhou na gestão de Antonio Palocci, hoje ministro da Fazenda, na Prefeitura de Ribeirão Preto (SP). Ele foi contratado para coordenar um projeto semelhante ao que motivou sua exoneração do cargo no Ministério da Cultura. Pinho foi procurado ontem pelo GLOBO, mas não retornou as ligações.

Ex-assessor de Adauto esteve oito vezes no Banco Rural

José Luiz Alves é conhecido como um homem de confiança de Anderson Adauto. Filiado ao PL, além de ter sido chefe de gabinete do então ministro dos Transportes, coordenou a campanha que elegeu Adauto, ano passado. Em 2003, o assessor do então ministro esteve quatro vezes na agência do Banco Rural em Brasília. A visita mais longa, no dia 8 de setembro, durou 19 minutos. A mais rápida, dez dias depois, não passou de seis minutos. Ano passado, Alves esteve quatro vezes no prédio onde fica a agência do Rural.

Anderson Adauto alegou que estava endividado em 2003 e que recorreu a Delúbio para quitar os débitos. Ele negou qualquer irregularidade nas operações. O prefeito de Uberaba foi ministro de Lula desde o início do mandato, em janeiro de 2003, até março do ano passado, quando saiu para disputar as eleições municipais.

Mais quatro nomes de petistas foram citados

Da relação apresentada por Valério ao MP, pelo menos outros quatro nomes são de pessoas ligadas ao PT. Raimundo Ferreira Silva Júnior, do PT-DF, demitido do cargo de assessor do gabinete do deputado Paulo Delgado (PT-MG), afirmou em nota que esteve no Banco Rural para buscar um pacote de dinheiro que teria sido entregue, em seguida, a Delúbio Soares, na sede do PT em Brasília, situada do outro lado da avenida. "Estive na agência, por solicitação do ex-tesoureiro Delúbio Soares, na qualidade de assessor do escritório nacional do Partido dos Trabalhadores. Depois de receber a quantia que, por estar em um envelope lacrado, não sei de quanto era, fui à sede do PT Nacional, situada no Centro Empresarial Varig sala 704, e entreguei o envelope pessoalmente nas mãos do companheiro Delúbio Soares", diz a nota. Ele desvincula o saque do gabinete de Delgado e diz que o deputado nem sabia de sua ida ao banco.

O presidente do diretório regional do PT no Distrito Federal, Wilmar Lacerda, outro que integra a lista, divulgou nota justificando o saque que fez e disse ter ido ao banco por orientação de Delúbio. O dinheiro seria para bancar despesas do diretório. "Por determinação do então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, estive na referida agência no segundo semestre de 2003 para sacar uma ordem de pagamento, em meu nome, no valor de R$50 mil. Os recursos serviram para saldar dívidas do PT-DF", informou Lacerda, que diz não ter questionado a origem do dinheiro por confiar em Delúbio.

Anita Leocádia Pereira, nome que aparece tanto na lista de Valério quanto na base de dados da CPI, é chefe de gabinete do deputado Paulo Rocha e não foi localizada. Os outros nomes da lista de Valério são: Áureo Markato, Renata Maciel Resende Costa, Rui Milan, José Nilson dos Santos e Luiz Mazano.

NOMES CITADOS POR VALÉRIO

Wilmar Lacerda: presidente do PT-DF

Raimundo Ferreira Silva Júnior: vice-presidente do PT-DF

Solange Pereira de Oliveira: funcionária do PT

Anita Leocádia: assessora do deputado Paulo Rocha (PA)

Roberto Costa Pinho: ex-assessor do Ministério da Cultura

José Luiz Alves: ex-assessor do ex-ministro Anderson Adauto

José Nilson dos Santos

Rui Milan

Áureo Markato

Renata Maciel Rezende Costa

Luiz Mazano

Legenda da foto: MARCOS VALÉRIO: ele citou no Ministério Público 11 pessoas autorizadas a tirar dinheiro no Banco Rural