Título: Contas de Valério no BB têm saques de R$59 milhões
Autor: Bernardo de la Peña/Demétrio Weber e Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 22/07/2005, O País, p. 5

CPI dos Correios descobre que em um único dia de 2003 foram sacados R$9,7 milhões da conta da DNA

BRASÍLIA. A movimentação e os saques feitos nas contas do publicitário Marcos Valério no Banco Rural e no Banco do Brasil já atingem R$89 milhões, segundo análise preliminar da CPI dos Correios. Apenas das contas no Banco do Brasil saíram R$59 milhões, sendo R$9,7 milhões da conta da DNA Propaganda num único dia em maio de 2003. A CPI requisitou ontem novas informações ao Banco do Brasil, além do auxílio de um funcionário da instituição, para esclarecer quanto dos R$59 milhões foi sacado em dinheiro vivo e quanto foi transferido por meio de transações bancárias, incluindo até a possibilidade de haver aplicações financeiras, com o dinheiro saindo de uma conta corrente para uma conta de investimento da própria empresa.

Inicialmente, pelo volume de operações no BB (tratadas como saques) o relator da CPI, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), desconfiou que o banco não havia comunicado ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) saques em dinheiro acima de R$100 mil, como determina a lei. Os outros R$30 milhões são referentes aos saques em dinheiro feitos nas contas do publicitário no Rural. O senador Álvaro Dias (PSDB-PR) disse que a CPI solicitou ao Banco do Brasil o envio da chamada fita do caixa, com o registro dos saques acima de R$30 mil. Só assim, explicou Dias, será possível saber o que foi efetivamente sacado em dinheiro e por quem.

A equipe técnica da CPI começou a analisar anteontem os dados recebidos do BB referentes à quebra de sigilo das contas das empresas de Valério. Os analistas, porém, estariam em dúvida sobre o que poderia ter sido sacado de fato e o que poderia ter sido destinado a uma aplicação financeira. O BB chegou a alegar que apenas atendeu ao pedido da CPI, que teria sido mal feito. Por isso, segundo assessores da instituição que foram ao Senado tentar esclarecer o assunto, os dados estariam sendo mal interpretados.

Gerente nega saques acima de R$100 mil

O gerente de segurança do BB, Edson Lobo, negou que tenham sido feitos saques em dinheiro acima de R$100 mil, sem que o banco tenha informado ao Coaf. Do relatório do órgão, consta apenas uma retirada no valor de R$112 mil em 9 de setembro de 2003 da conta da DNA Propaganda. Segundo ele, o banco entendeu que deveria informar "os saques" a CPI e incluiu na conta recursos que foram transferidos para outras contas bancárias.

- Eles estavam contabilizando mais de uma vez a transferência de recursos de uma conta corrente para uma poupança ou aplicação financeira. Decidimos suspender tudo para evitar erros e aguardamos uma solução técnica - disse Serraglio.

O deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS), que teve acesso à documentação, disse que há cheques nominais da DNA para a própria agência. Esses cheques teriam sido sacados por outras pessoas, mediante autorização de gerentes em agências do BB. Segundo o deputado, os valores variavam de R$200 mil a R$500 mil. Num deles, havia a seguinte anotação à mão: "Conf. c/ Wallassem".

Uma diretora superpoderosa na SMP&B

BRASÍLIA. O papel e as atribuições da diretora administrativa financeira da SMP&B, Simone Vasconcelos, vão muito além de sacar os recursos nas contas da agência e distribuí-los aos beneficiários do esquema do suposto mensalão. Simone é superpoderosa na agência. No depoimento que prestou no inquérito da Polícia Federal em Belo Horizonte, no início do mês, ela revelou que endossava os cheques de valores superiores a R$100 mil emitidos pela SMP&B, destinados ao pagamento de políticos, e que fazia saques acima de R$300 mil, entregues a pessoas desconhecidas dentro da própria agência do Banco Rural. Mais ainda: Simone tem poder de assinar o cheque no lugar dos diretores.

Simone sacou R$6,1 milhões das contas de Valério. No depoimento, ela revelou que os cheques que "estão sendo noticiados na mídia" eram preenchidos na sua diretoria e repassados aos diretores da SMP&B. Outra revelação: os cheques de valores altíssimos eram contabilizados na empresa como "despesas extras".