Título: Lula chama Dirceu de companheiro e critica imprensa
Autor: Cristiane Jungblut
Fonte: O Globo, 03/08/2005, O País, p. 9

Jaques Wagner, articulador político do governo, conversou com ex-ministro sobre a linha de sua argumentação

BRASÍLIA. O Palácio do Planalto acompanhou o depoimento do ex-ministro José Dirceu no Conselho de Ética da Câmara e também, por intermédio de petistas, a preparação de Dirceu. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se manteve informado do teor das declarações de Dirceu, principalmente por ministros e assessores como o articulador político, o ministro das Relações Institucionais Jaques Wagner.

Wagner conversou várias vezes com Dirceu nas últimas horas sobre a linha de seu depoimento. Enquanto Dirceu falava, o presidente Lula participava da cerimônia de instalação do Conselho Nacional da Juventude. Em seu discurso, Lula citou a crise política e chamou Dirceu de companheiro, uma deferência ausente de seus discursos públicos desde a saída de Dirceu da Casa Civil, dia 16 de junho.

¿ Muitas vezes, num ato como este, possivelmente o destaque que este ato (Conselho da Juventude) terá na imprensa será quase nenhum. Porque está acontecendo o processo da Comissão de Ética, o companheiro José Dirceu está lá e, certamente, como minha mãe dizia, coisa ruim sempre tem mais privilégio do que coisa boa no noticiário do mundo inteiro, não apenas no Brasil ¿ disse Lula.

Momentos antes, o presidente foi lacônico e irônico ao responder a uma pergunta se a crise chegaria a ele:

¿ Depende de vocês ¿ disse sorrindo, sem dar explicações.

Lula citou o ¿companheiro Dirceu¿ no fim do discurso, quando falava de improviso. Antes e depois da cerimônia, ele era informado do desempenho do ex-ministro. Segundo assessores, Lula recebia cópias das agências de notícia. Desde cedo, o presidente manteve encontros políticos para analisar a crise.

O presidente chegou ao Planalto às 16h10m, 40 minutos atrasado para uma solenidade que deveria começar às 15h30m, mesmo horário do início do depoimento de Dirceu. Jaques Wagner, que conversara na noite de segunda-feira com o ex-ministro, disse a Lula que o companheiro de partido já tinha avisado que faria um discurso inicial político e que rebateria as denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).

Planalto faz avaliação positiva do depoimento

No Planalto, havia grande temor em relação ao comportamento de Dirceu, mas essa preocupação deu lugar a uma avaliação mais tranquila, de que não houve grandes revelações. A avaliação interna, no fim do dia, era de que Dirceu estava bastante tranquilo, seguro e que foi bem, pois manteve o controle sobre o depoimento e cumpriu a promessa de não fazer ataques ao governo. Ao contrário, fez vários elogios a Lula.

Pela manhã, Lula se reuniu com o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), para discutir a crise política. Também participaram o ministro Jaques Wagner e o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). Foi o segundo encontro de Lula com Severino em uma semana.

À tarde, ainda em seu discurso, Lula fez referências à crise:

¿ Vivemos um momento interessante na História política do nosso país.

E, no momento em que o governo é envolvido em denúncias de irregularidades cometidas pelo PT, Lula garantiu que sua gestão está fazendo com que o Estado brasileiro seja ¿expressão do interesse público e do bem comum¿.

¿ Jamais (o Estado) será abrigo de privilégios e de interesses particulares. Governar para todos é algo difícil, que exige muita dedicação e sacrifício ¿- disse Lula.