Título: Saques eram computados como empréstimo ao PT
Autor: Adriana Vasconcelos e Demétrio Weber
Fonte: O Globo, 04/08/2005, O País, p. 13

Diretora diz que SMP&B registrou saque para partido até quando beneficiário era de outra legenda. Total foi de R$55,8 milhões

BRASÍLIA. A diretora financeira da SMP&B, Simone Vasconcelos, disse ontem na CPI dos Correios que, na contabilidade da empresa, os R$55,8 milhões sacados das contas da agência por políticos e seus assessores foram computados como empréstimos para o PT, embora alguns dos beneficiários fossem parlamentares de outros partidos. Simone disse que nunca exigiu qualquer recibo no momento em que esses recursos foram distribuídos.

Ela confirmou que o ex-tesoureiro petista Delúbio Soares era quem decidia o nome dos beneficiários, e disse que o ex-secretário-geral do partido Sílvio Pereira também sabia dos saques.

¿ Meu objetivo aqui é esclarecer o que sei. Não vou inventar. Nunca estive com o Sílvio Pereira, mas ele sabia dos saques.

Borba teria se recusado a dar o número da identidade

Ela contou da irritação do ex-líder do PMDB na Câmara José Borba (PR) ao tentar sacar dinheiro no Banco Rural em Brasília. Ele se negou a dar o número de sua identidade, o que obrigou Simone a viajar a Brasília para autorizar a liberação. Pela lista apresentada por Marcos Valério, que inclui 31 pessoas entre sacadores e beneficiários, Borba teria recebido R$2,1 milhões, entre setembro de 2003 e julho de 2004.

Simone pediu que seu depoimento fosse fechado. O pedido foi recusado. Apesar do incômodo que admitiu sentir toda vez em que foi obrigada a sacar altas quantias de dinheiro a pedido de Valério, Simone disse que não se sentia culpada:

¿ Não me arrependo de nada. Segui ordens do meu patrão. Quando passei a ficar incomodada, falei com Marcos Valério. Considerava um risco pessoal sair da agência com altas quantias de dinheiro. Não tinha noção de qualquer ilicitude daqueles atos.

Segundo Simone, os primeiros saques na conta da SMP&B para o PT foram entre janeiro e fevereiro de 2003. Ela disse que foi a Brasília naquele ano de 20 a 30 vezes, mas nem todas as viagens foram para sacar dinheiro. E foi irônica ao negar ter carregado malas de dinheiro ou cansaço por separar os pacotes.

¿ Eu só carregava mala de roupas, e minha mala tinha rodinhas, não ficava cansada.