Título: A ESTRELA DE CABEÇA PARA BAIXO
Autor: Toni Marques e Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 13/08/2005, O País, p. 8

No Buraco do Lume, no Centro do Rio, petistas enfrentam ofensas e provocações

Numa manifestação ontem para cerca de cem militantes, onde numa grande faixa a estrela do PT aparecia invertida, o deputado federal Chico Alencar, que na véspera chorou na sessão da Câmara, sugeriu que o partido discutisse a possibilidade de o presidente Lula não se apresentar como candidato à reeleição. A proposta que contou com o apoio de outros políticos presentes, foi apresentada no tradicional encontro das sextas-feiras de parlamentares petistas no Buraco do Lume, no Centro.

- É bom ter um mandato maior. Talvez de cinco anos. O direito à reeleição cria o seguinte problema: o camarada entra no primeiro dia da posse, do seu primeiro mandato, e já está pensando no segundo - disse Chico.

Sem chorar, mas ainda emocionado, ele e outros parlamentares da bancada estadual fluminense (Alessandro Molon e Paulo Pinheiro, que deixou há três dias o PT), enfrentaram ofensas e provocações de populares que passavam pelo local na hora do almoço.

Natanael do Araújo, de 72 anos, conhecido como "o profeta do PT", partido do qual é fundador, estava indignado:

- Eles (os parlamentares envolvidos no escândalo do mensalão) são traidores e precisam de punição. E não me venham com essa história de que o Lula não sabia de nada. Ele sabia sim - disse Natanael.

Reunido com cerca de 50 militantes no Bar Getúlio, em frente ao Palácio do Catete, o deputado estadual Raul Pont (PT-RS), candidato da Democracia Socialista à presidência do PT, discursou em tom otimista. Em frente à uma imagem de São Judas Tadeu, o santo dos endividados e das causas impossíveis, ele cobrou uma punição imediata para os dirigentes envolvidos com as denúncias de corrupção, mas disse que o partido tem que sobreviver à crise.

- Os atos errados dessa meia dúzia de dirigentes ou de alguns parlamentares não pode jogar por terra a experiência riquíssima que temos como partido. Queremos ter direito ao perdão.

Ao lado de Vladimir Palmeira, Pont disse que é preciso resistir.

- Precisamos ser uma referência para que os companheiros não percam o rumo, não voltem para casa e não saiam na busca de qualquer aventura que nos obrigue a voltar a uma condição de pequeno grupo, uma coisa que já vivemos e superamos há mais de 20 anos.

Legenda da foto: RAUL PONT, no Bar Getúlio: discurso otimista em frente a São Judas Tadeu