Título: Gaza gera crise em Israel
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Fonte: O Globo, 28/10/2004, O mundo, p. 30

O primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, enfrentou ontem a reação furiosa de quatro de seus ministros, que exigem a realização de um plebiscito sobre a retirada dos colonos judeus da Faixa de Gaza. Numa resposta firme, o premier rejeitou a proposta, mas a crise no governo ainda é considerada delicada por analistas.

Liderado pelo ministro da Fazenda, Benjamin Netanyahu, rival político de Sharon, o grupo descontente ameaça renunciar caso o plano de retirada não seja submetido a uma consulta popular. A saída de ministros importantes, segundo membros do partido de Sharon, o Likud, pode fazer com que as eleições no país sejam antecipadas, numa reviravolta política que, no mínimo, atrasaria a saída de Gaza.

População quer plebiscito sobre retirada

Pesquisas de opinião mostram que a maioria da população, apesar de favorável ao plano de Sharon, também prefere vê-lo sujeito a um plebiscito. Segundo o jornal ¿Ma¿ariv¿, metade dos israelenses é a favor da consulta. Se a votação ocorresse, 59% disseram que votariam pela saída de Gaza, e 28%, contra.

O plano de retirada foi aprovado numa votação histórica no Parlamento, na terça-feira, abrindo caminho para Israel abandonar pela primeira vez terras tomadas na guerra de 1967 e reclamadas por palestinos como parte de um futuro Estado. A proposta de Sharon já havia suscitado ameaças de morte e de um levante civil. Depois de aprovada, dividiu ainda mais o Likud.

-- Eu nunca vou ceder a pressões e ameaças, e não aceito qualquer ultimato. Minha posição sobre o referendo não mudou. Eu me oponho porque isso vai levar a terríveis tensões e a uma divisão da população -- disse Sharon ao jornal ¿Ha¿aretz¿.

O plano de retirada tem ampla aprovação popular, mas enfrenta ferrenha oposição de setores mais conservadores, especialmente dos colonos, de quem o premier, no passado, foi considerado o grande protetor. Sharon alega ainda que o referendo pode atrasar o início da retirada de tropas e colonos da Faixa de Gaza e de quatro dos 120 assentamentos da Cisjordânia, que deveria começar depois de uma nova análise do Gabinete, marcada para março.

Mas a perda dos ministros, principalmente de Netanyahu, bem-visto pelos mercados e considerado o arquiteto de reformas econômicas importantes, pode, segundo analistas, provocar um racha sem precedentes no Likud.

¿ Não podemos descartar totalmente um referendo. Isso é política e todo o cuidado é pouco nesse assunto ¿ reconheceu um confidente de Sharon.

Aparentemente indiferente à crise, Sharon visitou ontem o túmulo do primeiro-ministro Yitzhak Rabin, em Jerusalém, numa cerimônia em homenagem ao líder do Partido Trabalhista assassinado há nove anos, e pediu desculpas por criticá-lo, pouco antes de sua morte.

¿ Nossas discussões nunca foram pessoais, mas sinto ter dito coisas duras em nossos debates ¿ disse o premier