Título: CARTA IRAQUIANA: PRAZO ACABA HOJE
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Fonte: O Globo, 15/08/2005, O Mundo, p. 16

Divergências sobre autonomia regional ameaçam acordo sobre anteprojeto

BAGDÁ. Líderes iraquianos continuaram ontem a travar uma batalha sobre limites à autonomia regional no que deveria ser o penúltimo dia para concluir o texto da nova Constituição do país. Com isso, aumentou o temor de que eles não cumpram o prazo estipulado de chegar a um acordo sobre a Carta hoje.

O tema principal das discussões tem sido a ampliação da autonomia regional, particularmente para curdos e xiitas, além da exigência de xiitas de um papel maior do Islã na Carta. As divergências têm dificultado há semanas a elaboração do texto da Constituição, que Washington considera crucial para conter a insurgência no país, atribuída principalmente à minoria sunita.

Legislador admite estender prazo por duas semanas

Dois legisladores levantaram a possibilidade de a data limite de hoje ser prorrogada. Com poucos sinais de avanço, o legislador Jawad al-Maliki, membro do Dawa, partido do primeiro-ministro Ibrahim al-Jaafari, disse:

¿ Se não chegarmos a um consenso hoje (ontem), podemos fazer emendas ao anteprojeto da Carta e estender o prazo final por no mínimo duas semanas.

A Assembléia Nacional convocou para hoje uma sessão especial. Vários negociadores disseram que provavelmente seus integrantes darão início imediatamente a uma revisão do texto da Constituição.

¿ Neste encontro (do Parlamento), esperamos que o esboço da Constituição seja apresentado ¿ disse Nasser al-Awadi, um árabe sunita membro da comissão incumbida de redigir a Carta.

O primeiro-ministro al-Jaafari declarou que estava otimista sobre um acordo hoje.

¿ Pelo que ouvi, há um acordo e o documento será submetido a tempo ¿ disse.

Um acordo constitucional no Iraque é considerado crucial para o presidente George W. Bush, que espera enfraquecer a insurgência e passar o poder aos iraquianos.

Os curdos querem garantir a autonomia de que desfrutavam no norte do país. Já líderes da maioria xiita pressionam para que o Islã tenha influência na Constituição e lutam também por uma região autônoma no sul. A minoria sunita ¿ que era protegida por Saddam Hussein ¿ teme perder poder sobre campos de petróleo se os xiitas tiverem autonomia no sul.

Insurgentes teriam bombas com apoio do Irã

A revista americana ¿Time¿ disse ontem que uma rede de insurgentes no Iraque, que tem o apoio do Irã, seria responsável por um novo tipo de bomba letal, como parte de planos de Teerã de influenciar o país vizinho. Os planos teriam sido traçados antes da invasão americana.

Citando um documento da inteligência militar americana, a revista informou que, nos últimos oito meses uma rede de insurgentes liderada por Abu Mustafa al-Sheibani começou a utilizar bombas desenhadas pela milícia libanesa Hezbollah (que tem o apoio do Irã), capazes de perfurar a blindagem de um tanque. Num ataque recente, 14 fuzileiros navais americanos morreram. A investigação se baseou em documentos retirados do Irã e em entrevistas com funcionários da inteligência americana, britânica e iraquiana.