Título: Oposição apóia Gabeira e avalia se deve pedir afastamento de Severino
Autor: Maria Lima/Lydia Medeiros
Fonte: O Globo, 01/09/2005, O País, p. 4

Presidente da Câmara considera excelente a repercussão de suas declarações

BRASÍLIA. O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) recebeu ontem o apoio da oposição por ter enfrentado o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE). Gabeira atacou o comportamento de Severino, que defendeu punições mais brandas para parlamentares envolvidos no escândalo do mensalão.

Gabeira tem pronta uma representação contra Severino por uso indevido da presidência, mas depende do apoio de um partido para levá-la adiante, já que o PV não se sensibilizou com a denúncia. Gabeira acredita que um partido da oposição vá subscrever a representação. Ele diz que a intenção não é cassar o mandato do presidente, mas afastá-lo do comando da Câmara. A representação tem que ser subscrita por um partido para ir direto ao Conselho de Ética. Se for assinada só pelo deputado, segue para a Mesa, que a encaminha à Corregedoria. O processo volta à Mesa, que decide se o caso vai ao Conselho.

- Não posso sozinho subscrevê-la. Para o meu partido, o PV, isso é demais, não há essa prática do confronto. E não posso submetê-lo ao conflito de fidelidade entre a vontade de me ajudar e ir contra o presidente da Câmara - disse Gabeira.

Em defesa de Severino, um de seus principais cabos eleitorais, o deputado Benedito Dias (PP-AP), entrou ontem com uma representação na Mesa da Câmara pedindo a cassação de Gabeira. Segundo Dias, Gabeira quebrou o decoro parlamentar e perpetrou "gravíssima ofensa moral ao presidente da Câmara".

Depois do tumulto da véspera, Severino foi à Câmara no fim do dia. Ele achou excelente a repercussão de suas declarações:

- Tenho que ser questionado. Se sou questionado é uma prova de que estou vivo.

Sobre sua reação irada na véspera, disse que teve motivo:

- Foi por causa de um tipo como aquele que hoje está respondendo a isso (o pedido de cassação de Gabeira).

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), evitou comentários sobre o colega, mas protestou contra acordos.

- Não vou discutir a conduta de ninguém, mas quem se atrever a ser pizzaiolo, quem se atrever a meter a mão nessa massa, vai dificultar a vida do país e das instituições - alertou. - Quem se atrever a fazer manobra, a acobertar as investigações, está redondamente enganado.

O líder do PFL, José Agripino Maia (RN), disse que a oposição vai avaliar a repercussão da permanência de Severino no cargo:

- Se o representante maior da Câmara insistir em patrocinar acordão ou teses como a de ontem (penas brandas), à oposição não restará outro caminho senão trabalhar por seu afastamento da presidência.

Pedro Simon (PMDB-RS) considerou absurdas as declarações de Severino:

- Ele precisa conduzir o processo com isenção, pois tem o voto de Minerva. Não tem de dizer o que acha ou não acha. Mas o lado positivo é que provocou uma reação à altura.