Título: PT PERDE EM PORTO ALEGRE, SEU MAIOR SÍMBOLO
Autor: Ilimar Franco e Chico Oliveira
Fonte: O Globo, 01/11/2004, O país, p. 15

Pela primeira vez em 16 anos, prefeitura da capital do Rio Grande do Sul vai para as mãos e outro partido: o PPS

PORTO ALEGRE. O PT gaúcho sofreu uma significativa derrota no segundo turno das eleições municipais. O partido perdeu seu maior símbolo, a prefeitura de Porto Alegre, que administrava há 16 anos, e também a de Caxias do Sul e de Pelotas. Milhares de pessoas foram às ruas nas três cidades comemorar a derrota dos candidatos petistas e carreatas congestionaram o trânsito das ruas centrais. Em frente ao comitê do candidato do PPS, José Fogaça, ontem à noite, populares gritavam ¿acabou a ditadura¿, referindo-se à derrota após quatro gestões petistas.

José Fogaça obteve 431.820 mil votos (53,32% dos votos válidos), derrotando Raul Pont, do PT, que recebeu 378.099 votos (46,68%). Em Caxias do Sul, o vencedor foi o deputado José Ivo Sartori, do PMDB, que obteve 119.521 votos (52,43% dos votos válidos), derrotando Marisa Formolo, com 108.427 votos (47,57%), após oito anos de gestões petistas. O PPS também venceu em Pelotas, onde o deputado estadual Bernardo de Souza, com 100.088 votos (52,38% dos votos válidos), impediu a reeleição do prefeito Fernando Marroni, que fez 91.007 votos, 47,62%.

A preocupação do prefeito eleito de Porto Alegre é com a transição de governo, sobretudo por causa da realização do Fórum Social Mundial, de 26 a 31 de janeiro de 2005. Fogaça afirmou que vai procurar os organizadores e o prefeito João Verle para garantir que todas as providências para sua realização sejam adotadas. O prefeito eleito afirmou também que quer uma transição pacífica.

¿ Vou criar uma comissão de transição para que não haja prejuízo no andamento dos programas sociais ¿ disse.

PT gaúcho evita críticas ao governo federal

A derrota nos três principais colégios eleitorais gaúchos é um duro golpe no projeto petista de retomar o governo estadual nas eleições de 2006. O governador Germano Rigotto, do PMDB, é o principal beneficiário das eleições, pois o PPS e seus aliados, como o PTB e o PDT, participam de seu governo, e devem se integrar a sua campanha pela reeleição.

O PT gaúcho evitou ontem responsabilizar o governo Lula pelas derrotas. O próprio candidato derrotado na capital, Raul Pont, já havia atribuído as dificuldades do partido à decepção da população com inúmeras iniciativas do governo federal e, ontem, o ouvidor nacional do partido, deputado estadual Flávio Koutzii, admitiu que não poderia ignorar como fator secundário a influência de alguns temas nacionais como a situação dos aposentados, a perda de votos de parte da classe média e até mesmo as repercussões da greve dos bancários.

Analisando pouco as razões de sua derrota na manifestação que fez pouco antes das 20h de ontem, Pont ¿ cercado pelos ministros gaúchos Tarso Genro (Educação), Olívio Dutra (Cidades), Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário) e Dilma Rousseff (Minas e Energia) e lideranças estaduais do partido ¿ preferiu analisar que o PT, mesmo derrotado no Rio Grande do Sul, teve uma expressiva vitória nacional, na medida em que aumentou o número de capitais no segundo turno. O partido conquistou mais de um terço das capitais, enquanto superou as 400 prefeituras, mais que o dobro da situação anterior.

¿ Esta vitória eleitoral nacional consolida o nosso projeto político ¿ disse Pont.

O ministro Tarso Genro disse que recebia os resultados com humildade, porque ¿a soberania da população se manifesta dessa forma quando deseja alternância¿.