Título: FAMÍLIA BUSCA NOTÍCIAS DE MINEIRA TETRAPLÉGICA
Autor:
Fonte: O Globo, 07/09/2005, O Mundo, p. 29

Sem ajuda, brasileira não conseguiu deixar Nova Orleans. O último contato foi há nove dias

A brasileira Benilda Caixeta, de 56 anos, não se comunica com a família, em Patos de Minas (oeste de Minas Gerais), desde sete horas antes da passagem do furacão Katrina por Nova Orleans, na Louisiana, onde mora há mais de 20 anos. Por telefone, Benilda, que tem apenas alguns movimentos nas mãos e nos pés e se locomove numa cadeira de rodas motorizada, contou que ficaria em casa até a tormenta passar. Nove dias depois, a angústia dos familiares a milhares de quilômetros de distância não pára de crescer diante das imagens de destruição que chegam pela TV.

- Tem sido uma grande tortura. São nove dias quase sem comer e dormir. É uma angústia tremenda, a gente está vivendo um pesadelo - contou a irmã de Benilda, Maria José Caixeta.

Benilda só tinha água para três dias

Benilda mora sozinha num apartamento no andar térreo, totalmente adaptado para sua deficiência física. Em 1977, após tratamento frustrado no Brasil, ela foi a Washington tentar se curar do que Maria José chama de "paralisia no crescimento dos nervos do corpo", doença que estava afetando os movimentos. Já em Nova Orleans, após uma cirurgia malsucedida, o quadro da mineira com cidadania americana evoluiu para uma paraplegia e, depois, para uma tetraplegia.

- Eu disse para buscar ajuda, mas ela falou que não havia mais tempo para sair e que ninguém poderia ajudá-la. Ela disse: "Não consigo sair, vou ficar em casa, não tem outro jeito." A previsão era se comunicar com a gente em até três dias, mas não temos nenhum sinal. Ela só tinha água para três dias.

A família entrou em contato com o Itamaraty, que informou que enviaria uma brasileira que mora em Nova Orleans ao local onde Benilda mora (7001 Bundy Road, apt. C17).

Há dois meses Benilda escreveu uma carta para a família contando sobre o perigo de um furacão atingir o Sul dos EUA. Mas não mudou sua rotina. A administradora é voluntária num hospital da cidade.

- O sonho dela era voltar para o Brasil curada. Umas das últimas coisas que disse pelo telefone foi para pouparmos nossa mãe da história e que sabia do risco que correria ficando em casa - lembrou Maria José.

O Itamaraty recebeu pedidos para localizar 93 brasileiros. Destes, falta contatar 22. Dos já localizados, nenhum está ferido ou com problemas graves de saúde. Até o momento não foi registrada a morte de nenhum brasileiro.

*Do Globo Online

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