Título: EX-DIRIGENTES LIGARAM PARA O EXTERIOR
Autor: Franscisco Leali/Gerson Camarotti/Bernado de
Fonte: O Globo, 07/09/2005, O País, p. 11

CPI investiga se telefonemas têm conexão com financiamento de campanhas

BRASÍLIA. A CPI dos Correios identificou telefonemas dos ex-dirigentes petistas Sílvio Pereira e Delúbio Soares para o exterior. Essas ligações surgiram da análise de 1.467 milhões de registros de chamadas que estão na base de dados da CPI. Estão sob investigação 517 linhas de 20 pessoas físicas e jurídicas. Mas a CPI ainda não conseguiu saber o destino dos telefonemas. Como Delúbio foi tesoureiro do PT, uma das linhas de apuração é saber se as ligações têm conexão com o financiamento de campanhas eleitorais.

- As ligações chamam atenção, mas ainda não é possível emitir um parecer sobre isso - afirma o sub-relator de movimentação financeira, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR).

Dia 15, será apresentado o relatório parcial com os primeiros dados relativos à quebra de sigilos telefônicos e à movimentação financeira de Marcos Valério Fernandes. Fruet disse que até lá uma das linhas de trabalho será cruzar as datas dos telefonemas com as datas dos saques nas contas do empresário.

O relatório parcial mostrará que as oito empresas de Marcos Valério movimentaram mais de R$2,7 bilhões entre 2003 e junho de 2005. Foram analisadas transações feitas nos bancos BMG e Rural, e confrontadas com a contabilidade apresentada por Valério à CPI do Mensalão. Segundo Fruet, a CPI ainda não obteve os dados oficiais das empresas do publicitário.

Fruet informou que o cruzamento mostrou a existência de uma conta no Rural de onde eram feitos os pagamentos para pessoas indicadas por Delúbio Soares. Já foi identificado o destino de R$42 milhões. Ainda não se sabe para onde foram outros R$13 milhões.

- Valério montou um sistema para não deixar rastro. A maior parte do dinheiro saiu da SMP&B (uma das agências do publicitário) e não há vínculo com os empréstimos que Valério alega ter feito para fazer esses pagamentos - disse Fruet.

Para o sub-relator, o lógico seria o dinheiro dos empréstimos estar depositado numa conta e de lá saírem os pagamentos. Não foi o que ocorreu. Outro indício de que os empréstimos podem não ter abastecido a conta, disse Fruet, é o fato de os primeiros depósitos serem anteriores ao primeiro empréstimo, de 24 de fevereiro de 2003.

- Há cheques de pessoas físicas e jurídicas. Não há relação direta entre o dinheiro que saiu dos empréstimos e o dinheiro depositado na conta - disse, acrescentando que foi encontrado, por exemplo, um cheque de uma empreiteira nessa conta, chamada pelo empresário de "caixa cheque emitido".

A CPI quebrou o sigilo de 172 contas, de 59 pessoas físicas e 113 pessoas jurídicas. Na próxima semana devem ser pedidas novas quebras de sigilo, das empresas encontradas como depositantes na conta de Valério. Uma das suspeitas é que essas empresas podem ter feito doações eleitorais não comprovadas, usando o esquema de Valério. Um exemplo é o caso da doação da Usiminas ao deputado Roberto Brant (PFL-MG), de R$150 mil, pela SMP&B.