Título: CALDO TÓXICO COBRE NOVA ORLEANS
Autor: Dan Balz
Fonte: O Globo, 08/09/2005, O Mundo, p. 19

População da cidade levará anos para voltar a ter acesso a água potável

NOVA ORLEANS. As águas putrefatas que ainda cobrem partes de Nova Orleans estão tão envenenadas com gasolina, produtos químicos industriais, fezes e outros contaminantes que mesmo um contato breve representa um grande risco à saúde. De acordo com autoridades federais, água potável poderá não estar disponível para toda a população por anos.

Para prevenir doenças entre a população, o prefeito de Nova Orleans, Ray Nagin, autorizou policiais e militares a forçar a retirada de todos os moradores que se recusarem a seguir as ordens de deixar a cidade. A despeito dos riscos, os oficiais encontram resistência de alguns moradores.

Micheline Doley, de 24 anos, e três familiares só concordaram em abandonar o apartamento em que vivem no terceiro andar de um prédio da Rua South Liberty depois que oficiais ameaçaram não levar mais água mineral para eles.

¿ Enquanto eles continuassem a trazer água, não sairíamos ¿ contou Micheline.

No primeiro relatório formal sobre a devastação ambiental provocada pelo Katrina, autoridades de Baton Rouge apresentaram uma enorme relação de contaminantes que poderiam ser encontrados nas águas, incluindo milhares de toneladas de cimento, madeira, carros, carcaças de animais, e todo tipo de resíduo sólido encontrado numa região metropolitana. A tragédia ambiental terá proporções iguais à destruição material e humana do Katrina.

A maior parte das estações de tratamento de esgoto da cidade foi destruída. Dois grandes vazamentos em petrolíferas jogaram o equivalente a 78 mil barris de óleo no lago Pontchartrain. Gasolina recobre a cidade, proveniente de vazamentos nos tanques de carros e barcos submersos.

¿ É difícil imaginar como iremos lidar com tudo isso ¿ afirmou Mike McDaniel, secretário estadual de Meio Ambiente. ¿ Acho que nunca ninguém teve que lidar com isso. A tsunami vem à mente.

Gregory J. Smith, diretor do Centro Nacional de Pesquisas de Áreas Alagáveis, afirmou que partes da cidade serão inabitáveis mesmo depois de a água baixar. E quando a população começar a retornar a Nova Orleans provavelmente precisará consumir água mineral durante muito tempo até as estações de tratamento de água serem reconstruídas.

¿ Estamos preocupados com a ocorrência de lugares propícios à disseminação de doenças e danos ambientais ¿ disse Smith.

Equipes de resgate estão sendo vacinadas

A diretora dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças, Julie Gerberding, afirmou em entrevista que não será surpresa se a população levada para abrigos apresentar altos índices de doenças infecciosas.

A ocorrência de doenças respiratórias como a gripe, cuja temporada começa em meados deste mês, são as mais prováveis, segundo ela. O registro de casos de diarréia também é provável, especialmente as causadas pela bactéria Escherichia coli, cuja presença já foi detectada nas águas. O número de doenças infecciosas já existentes entre a população da cidade também deve aumentar.

O maior risco imediato é em relação às equipes de resgate e às pessoas que estão recolhendo cadáveres. Os profissionais estão sendo vacinados contra hepatite e tétano.