Título: Governistas e oposição fazem coro pela saída do deputado
Autor: Maria Lima/Isabel Braga
Fonte: O Globo, 15/09/2005, O País, p. 5

'Severino não tem mais condições de presidir a Câmara, tem que se licenciar e responder a processo', diz Ricardo Izar

BRASÍLIA. Foi imediata, intensa e em coro a reação à revelação do cheque descontado pela secretária do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE). Líderes e representantes de todos os partidos na Câmara cobraram logo cedo a renúncia de Severino. Até o PT e o governo, que na véspera deram a Severino mais uma chance, reconheceram que ele não tinha mais condições de exercer a presidência e teria que responder a processo por quebra de decoro no Conselho de Ética da Câmara.

Como resultado da pressão, ainda de manhã Severino mandou avisar que não presidiria a sessão de ontem do plenário, que votou o processo de cassação do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ).

"A alma já foi, agora só ficou o corpo", diz pefelista

O presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP), que conduzirá o processo contra Severino, não teve dúvidas da gravidade da situação quando viu a entrevista do empresário Sebastião Buani, mas defendeu o amplo direito de defesa a ele.

- Severino não tem mais condições de presidir a Câmara, tem que se licenciar e responder a processo no Conselho de Ética. A prova documental complicou a sua situação. Não tem mais condição de presidir a Câmara nesse momento, mas tem todo direito de se defender no Conselho de Ética - afirmou Izar.

O líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS), que desde o início defendeu a representação contra Severino mas foi orientado pelo Planalto a aguardar provas, reconheceu que a situação se complicou, mas defendeu amplo direito de defesa para Severino.

- O PT não elegeu o Severino Cavalcanti, que neste momento não tem condições de continuar na presidência da Câmara, mas não se pode transformar o caso num tribunal de exceção. Ele deve ter o direito a ampla defesa - afirmou Fontana.

- A alma já foi, agora só ficou o corpo. Pode até ter condição legal, mas não tem condição moral de presidir a sessão de hoje (ontem) -- afirmou o líder da Minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA). - O presidente da Câmara não pode mentir. Espero que o senhor, presidente Severino, não venha presidir hoje (quarta-feira).

Partido da base aliada, o PSB também se convenceu da contundência da prova de culpabilidade de Severino. O líder do PSB na Câmara, Renato Casagrande (ES), informou logo cedo que o partido vai entrar com representação no Conselho de Ética contra o presidente da Câmara. O PMDB também deve entrar com pedido semelhante. Ontem, outros cinco partidos de oposição apresentaram representação no Conselho contra Severino.

- Antes havia muito indício mas nenhuma prova. Agora apareceu a prova que justifica o pedido - disse Casagrande.

O vice-líder do governo, Beto Albuquerque (RS), também do PSB, foi taxativo:

- A situação de Severino é insustentável. Qualquer brasileiro com vergonha na cara renunciaria não somente à presidência da Câmara mas também ao mandato - afirmou.

Logo após a apresentação do cheque do pagamento de mensalinho, o PFL pediu o afastamento imediato de Severino Cavalcanti, para que nem presidisse a sessão de ontem.

- Se isso acontecer (presidir a sessão), será o pior da história da Câmara dos Deputados. Severino perdeu todas as condições de presidir a sessão. A situação é insustentável Ö disse o líder do PFL, deputado Rodrigo Maia (RJ).

A Severino, restou a defesa de uma voz isolada

Uma voz isolada saiu em defesa de Severino: o deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP), que faz parte da tropa de choque de Roberto Jefferson, dizia que Severino tinha condições de presidir a sessão em que seria votado o relatório contra o petebista. Para Marquezelli, ainda resta a Severino o argumento de que não o cheque não foi pago diretamente a ele.

(*) Do Globo Online

Legenda da foto: ARLINDO CHINAGLIA (segundo à direita) chega à casa de Severino com líderes dos partidos aliados