Título: Divisão no PT e briga entre oposição e base dificultam escolha do sucessor
Autor: Ilimar Franco e Maria Lima
Fonte: O Globo, 18/09/2005, O País, p. 4

Maioria dos líderes não governistas defende a tese da candidatura única

BRASÍLIA. Com pouco mais de uma semana para costurar uma candidatura, a partir da possível renúncia do presidente Severino Cavalcanti (PP-PE), as velhas guerras fratricidas no PT e também entre oposição e base podem embolar a sucessão na presidência da Câmara. A maioria dos líderes não governistas defende a tese da candidatura única, de consenso, e até aceita um nome do PT, desde que não tenha o carimbo do Planalto ou do Campo Majoritário. O PT, por sua vez, tem quase meia dúzia de candidatos e nenhum consenso.

Os partidos ainda estão longe de se entenderem sobre o sucessor de Severino. O único consenso, até agora, é sobre desafios e tarefas que devem ser impostos ao escolhido. Os negociadores em campo consideram que o principal desafio do futuro presidente é zelar pela imagem e pelo decoro da Casa, dando fim à crise interna e garantindo as investigações a fundo sobre os deputados envolvidos com o esquema de caixa dois do empresário Marcos Valério de Souza. Além de estabelecer um pacto com o governo para suspender a edição de medidas provisórias até que a pauta seja desobstruída e uma agenda política possa ser implementada.

Para a oposição, mais que isso, o novo presidente da Câmara precisa garantir a independência do Legislativo e abdicar da idéia de se transformar num braço do governo ou dos partidos de oposição.

PSDB, PFL e PTB apóiam José Thomaz Nonô

Mas se todos sabem o que querem, não há ainda o nome de um deputado que se encaixe nesse perfil e que possa representar a todos. A luta política, entre governo e oposição, impediu até agora que os partidos se sentem à mesa para negociar um nome consensual. Há ainda o agravante de que haverá pouco tempo para a escolha, cinco sessões deliberativas após a provável renúncia de Severino

O PSDB e o PFL, com o apoio do PTB, começaram a trabalhar para fortalecer o primeiro vice-presidente da Câmara, José Thomaz Nonô (PFL-AL). O próprio Nonô disse ao presidente Lula, sexta-feira, que será candidato. No caso de fracasso da alternativa Nonô, os partidos de oposição podem voltar a pensar em apoiar a eventual candidatura do presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP).

Mais uma vez o grande problema é a divisão interna do PT, que não consegue a unidade em torno de um candidato. Vários estão em campo: o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia, e os deputados Sigmaringa Seixas (DF), José Eduardo Cardozo (SP) e Paulo Delgado (MG).

PPS e o PDT vetam nomes do PT. Mas o problema são os vetos dentro do próprio PT. Paulo Delgado, que transita bem na oposição, não tem apoio de seus próprio partido. Sigmaringa Seixas, que já foi do PSDB, também enfrenta resistências. Cardozo trabalha para superar o boicote interno que enfrenta do grupo ligado ao deputado José Dirceu (PT-SP). Mais uma vez, a disputa interna pode deixar o PT fora da presidência da Câmara.

Correndo por fora, o presidente do PMDB, Michel Temer (SP), aposta no impasse e no fracasso das articulações entre oposição e PT para se viabilizar. Seus aliados lembram que Michel é o segundo candidato tanto do PT quanto da oposição. E, por isso, acreditam que, na medida que o candidato de um dos lados não se viabilizar, Temer poderá herdar estes votos.